Os acontecimentos no Brasil nos primeiros cinco meses do ano se deram de forma tão atropelada e foram tão maquiados por grande parte da mídia — que passou a atuar como assessoria de imprensa do governo — que resolvemos listar alguns dos mais inacreditáveis da história deste país. Antes de ler, respire fundo e garanta que haja um antiácido por perto.
Promessas populistas X nobreza elitista
As promessas de campanha, que mais pareciam delírios, realmente se mostraram nada mais do que pura psicopatia política; mesmo assim, o governo comemora vitórias. Algumas delas são celebradas publicamente, como o aumento de R$ 18 no salário mínimo e a redução do preço do gás em 17 centavos, enquanto outras são particulares, apenas entre os amigos do rei, como a distribuição de cargos com altas remunerações, a garantia de aumentos substanciais nos já grandiosos salários dos aliados e, claro, o incremento de ainda mais privilégios.
A nobreza do Brasil está mais satisfeita do que nunca, enquanto a picanha do povo ficou só na metáfora e a tabela do Imposto de Renda passou a taxar os mais pobres, bastando apenas chamá-los de “classe média”. Porém, a verdadeira classe média, que, embora tão odiada pelo “presidente do amor” que a acusa de “ostentar demais”, seja quem realmente sustenta o país, não pode nem sequer sonhar em adquirir os itens de luxo que o “primeiro-casal” faz questão de esbanjar dentro e fora do país, em um show de ostentação misturada com mau gosto.
Democracia ou show de horrores?
O Brasil também foi palco do maior número de malabarismo jurídico, em que um deputado federal teve seu mandato cassado por um ministro, mostrando que vingança não vem a cavalo, mas a jato, contra qualquer um que tenha cumprido sua obrigação na Lava Jato, com perdão do trocadilho. Seria um ato de revanchismo o fato de um ministro, amigo do réu, decidir que, mesmo sem qualquer violação à lei, o ex-procurador não possa exercer seu mandato legitimamente conquistado em uma eleição? É possível levar a sério um país que cria punição para crimes não cometidos? É essa a nossa democracia?
Embora o conceito de democracia se baseie no direito das individualidades e na garantia da liberdade de expressão, o PL das Fake News — menina dos olhos do governo Lula — já está ameaçando, censurando, calando e multando quem não concorda com seus termos. O governo está indo tão bem em sua campanha (que mais parece lavagem cerebral contando com o apoio da mídia-assessoria-de-imprensa) que muita gente está totalmente convencida de que censura faz parte do fortalecimento da democracia e de que liberdade de expressão é coisa de fascista.
País da piada pronta não aceita concorrência
Parece até piada que a Justiça tenha devolvido o helicóptero de um traficante de drogas condenado e foragido, enquanto um humorista esteja impedido de deixar a cidade por ter feito uma droga de piada...
E o que dizer de o STF ter formado maioria para proibir revistas íntimas em presídios? Não, isso não é piada. Segundo o entendimento dos ministros, a medida evitaria a prática “vexatória, desumana e degradante”. Mas não se preocupe, pois o cidadão ainda tem o direito de ser tratado de forma vexatória pelo SUS, onde não há estrutura suficiente e os profissionais de saúde têm uma carga horária desumana, recebendo salários degradantes.
E, de piada em piada, eis que foi aprovada a posse de um petista que não fala inglês como presidente da Apex, ainda que o idioma seja um requisito fundamental para alguém que vai representar o Brasil ao redor do mundo. Mas, considerando-se que passaríamos vergonha com alguém boiando durante negociações internacionais, eis que a Justiça anulou a posse do petista que não fala inglês por não falar inglês. Porém, como tudo pode acontecer no país da piada pronta onde a insegurança jurídica impera, eis que a Justiça volta atrás e anula a anulação da posse do petista que volta a ser presidente da Apex mesmo não falando inglês.
O Rio de Janeiro continua lindo e, para alguns, em 4K
A cidade maravilhosa tem projeto que prevê computadores de última geração, smart TVs de 70 polegadas com tecnologia 4K e óculos de realidade virtual para os presos do Complexo de Bangu. Sim, trata-se daquela prisão de segurança máxima que abriga os criminosos mais perigosos do Rio. Câmeras fotográficas profissionais e videogames também chegaram a ser aprovados no processo, mas para a infelicidade dos idealizadores e dos beneficiários do projeto alguns itens foram cortados. Em compensação, instituições públicas de ensino não receberão nada, pois não foi criado nenhum projeto prevendo as mesmas condições para os estudantes.
Semântica acima de tudo
A partir de 1º de janeiro de 2023, alguns termos foram revistos pela imprensa brasileira. Orçamento secreto, por exemplo, virou emendas de relator, e o que antes era crime passou a ser tratado como prática transparente. Agora, basta liberar emendas e as propostas do governo são coincidentemente aprovadas, incluindo o arcabouço fiscal com toda transparência que só a calada da noite é capaz de garantir.
E, como palavras importam, Ministério da Gestão e Inovação atende a pedido da pasta de Direitos Humanos e cria nova carteira de identidade retirando o campo “sexo” e não fazendo distinção entre “nome” e “nome social”. Agora todos poderemos viver no mundo mágico das ilusões, onde seremos chamados como quisermos e teremos o gênero que bem entendermos. Essa semântica da liberdade só não permite que os inadimplentes que se sentem pessoas de “nome limpo” tenham seu crédito de volta. Eles continuarão com seus CPFs negativados, e os juros de suas dívidas seguirão subindo firmes e fortes.
Mas anime-se, caro leitor, pois os cinco primeiros meses do ano estão chegando ao fim, e isso significa que tudo o que você ganhou até aqui só deu para pagar seus impostos. Quem sabe daqui para a frente você possa empregar sua renda no crescimento do seu patrimônio, na sua aposentadoria e no conforto de sua família. Hora do antiácido.