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No Cara ou Coroa da vacina chinesa os dois lados são confusos

Documentação incompleta, meias verdades, dados ocultos por contrato. A vacina chinesa é tão confusa que nem João Doria foi à coletiva de imprensa

Patricia Lages|Do R7

Desta vez o governador de São Paulo, João Doria, não abandonou o barco para ir a Miami, mas – sabe-se lá porquê – não compareceu à coletiva de imprensa desta terça-feira quando a eficácia global da vacina chinesa se mostrou bem abaixo do que seu governo havia divulgado dias atrás.

São tantas informações desencontradas, falas desmentidas, respostas evasivas e descabidas, que quase tudo que gira em torno da vacina chinesa parece ter uma nuvem carregada pairando no ar. E, para complicar ainda mais, autoridades paulistas informaram à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que estão impossibilitadas de fornecer os dados necessários à sua avaliação por questões de contrato. Ao que parece, há cláusulas contratuais de confidencialidade com o laboratório chinês Sinovac que não permitem a abertura de informações. E a pergunta é: como seria possível aprovar qualquer coisa que seja sem ter acesso aos dados necessários? E mais: por que ocultar dados que, a esta altura do campeonato, teriam que ser os mais claros possíveis?

A CoronaVac do Instituto Butantan: pior desempenho entre as vacinas
A CoronaVac do Instituto Butantan: pior desempenho entre as vacinas A CoronaVac do Instituto Butantan: pior desempenho entre as vacinas

Em entrevista à CNN Brasil, o médico sanitarista Sérgio Zanetta classificou como “meia verdade” a informação de que a CoronaVac teria 78% de eficácia, como informado dias atrás. “A Secretaria de Saúde e a chefia do Butantan, contrariando o que se imaginaria que fizessem, apresentaram um número parcial. Eles escolheram o melhor número para apresentar”, afirmou o sanitarista e acrescentou: “Nada justificaria esse comportamento que, na minha opinião, foi inadequado. Não é mentira o que anunciaram há uma semana, mas é meia verdade. E num momento em que há tantas dúvidas, a gente tem que dizer sempre a verdade.”

Durante a coletiva de imprensa, Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência declarou que “nós temos uma boa vacina. Não é a melhor vacina do mundo, não é a vacina ideal. É uma boa vacina, que tem a sua eficácia dentro do limite do aceitável pela comunidade científica, pela Organização Mundial de Saúde, por parâmetros internacionais.” Pasternak também declarou que os resultados da eficácia da vacina não estão de acordo com o que “realmente a gente esperava”, mas que “são resultados honestos” e que a vacina é “adequada para o Brasil.”

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Em comparação a outras vacinas, a CoronaVac se mostra com o pior desempenho. Em ordem de eficácia, segundo dados divulgados, temos:

• Pfizer/BioNtech – 95%

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• Moderna – 94,5%

• Sputnik V – 91,4%

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• Astrazeneca/Oxford – 70,4%

• CoronaVac – 50,38%

Ainda que o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, tenha dito que “não devemos ser tão cientistas”, precisamos tomar decisões baseados em ciência e não nessa politização ridícula e nem na judicialização de um processo que precisa ser 100% científico.

É absurdo que um partido político, no caso o Rede Sustentabilidade de Marina Silva, queira impor o prazo de 72 horas para que a Anvisa aprove o uso emergencial da CoronaVac. Para se ter uma ideia, a vacina da Pfizer, apresentando toda documentação exigida, levou dois meses para ser aprovada no Canadá, 21 dias nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde teve a aprovação mais rápida, foram necessários nove dias. Chega a ser inacreditável que um partido político se ache no direito de exigir esse tipo de coisa, ainda mais quando se sabe que nem sequer a documentação necessária foi entregue.

E nós, a população, como ficamos em meio a isso tudo? Onde está a ciência de que tanto se falava? Será que são políticos e juízes que devem decidir sobre questões sanitárias em meio a uma pandemia? O que temos visto chega a ser vergonhoso, pois toda a narrativa que o governo de São Paulo nos empurrou goela abaixo não se comprova com os documentos apresentados a conta gotas. Mas, em vez de reparar os erros, esse governo continua querendo ganhar no grito, demonizando todo aquele que se atreve a questionar e, agora, mandando até mesmo a ciência para escanteio.

Precisamos mais do que nunca de informações claras, confiáveis e verdadeiras e não de meias verdades que, no fundo, são meias mentiras. Não é momento para brincarmos de Cara ou Coroa.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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