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Impostos absurdos + ostentação = preços inacreditáveis 

Por mais descabido que seja, algumas multinacionais conseguem vender seus produtos no Brasil pelos preços mais caros do mundo

Patricia Lages|Patricia Lages, do R7

Cantora Anitta apareceu em vídeo exibindo dólares em boate de Miami
Cantora Anitta apareceu em vídeo exibindo dólares em boate de Miami Cantora Anitta apareceu em vídeo exibindo dólares em boate de Miami

Há algumas coisas que acontecem neste país que apenas as ciências exatas não conseguem explicar. Isso porque, se formos considerar a matemática e a economia, não vamos conseguir entender o que leva os brasileiros a se endividarem – por anos – para comprar produtos cuja vida útil é relativamente curta. Em alguns casos, o produto acaba antes de o carnê acabar.

É o caso do iPhone 12, que chegou ao Brasil no fim do ano passado com o preço mais caro do mundo. Basta fazer uma pesquisa nos sites oficiais da Apple e conferir os valores – em dólares – cobrados em outros países. Não se tratam apenas de impostos de importação, mas aparentemente várias multinacionais se aproveitam da disposição que os brasileiros têm em pagar mais caro, achando isso algo ótimo. É a moda da “ostentação”, onde o ter é colocado acima do ser e, infelizmente, acima também do raciocinar.

Todas as versões do aparelho – Mini, padrão e Pro Max – são mais caras no Brasil e custam respectivamente US$ 1.270, US$ 1.539 e US$ 2.535. Considerando o câmbio de hoje (R$ 5,35) os preços equivalem a R$ 6.794, R$ 8.233 e R$ 13.562. Mas não se preocupe, pois é possível conseguir o modelo mais caro (com a melhor configuração) pela bagatela de R$ 13.999 no site oficial do fabricante e, ao arredondar o valor dizendo que custou “14 paus”, a ostentação será completa!

E como sempre é possível se surpreender com os preços no Brasil, quase caio da cadeira hoje ao receber o e-mail de lançamento do AirPods Max. Enquanto os fones de ouvido custam US$ 549 nos Estados Unidos – R$ 2.937 ao câmbio de hoje – por aqui o preço oficial é R$ 6.899 que, na linguagem da ostentação, pode ser traduzido como “7 paus”. Mas, novamente, não há com o que se preocupar, afinal, o frete é grátis.

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Obviamente que uma parte da composição de preços descabidos como esses advém dos altos impostos que o país pratica há décadas, mas outra parte se deve à onda da ostentação que frequentemente é incentivada por celebridades e influenciadores digitais. São as Anittas da vida – que jogam dólares em strip club vendendo a ideia de que torrar dinheiro é a coisa mais inteligente do mundo – que fortalecem o conceito de que vale tudo para ser popular.

Testemunhei com muito pesar as histórias de diversas mães em um trabalho social de educação financeira numa das regiões mais carentes de São Paulo. A maioria delas se desdobrava fazendo faxina e vários outros “bicos” para comprar “tênis de marca” para os filhos irem à escola. “Eles querem se vestir igual ao ‘MC Fulano’ e à ‘funkeira Beltrana’ e se a gente não compra, eles conseguem em ‘mau caminho’”, disse uma delas enquanto as outras balançavam a cabeça em concordância.

É uma pena ver que, em um país onde falta tudo, o valor das coisas esteja tão invertido e que tenhamos de ouvir cada vez mais mães dizendo “Prefiro ter dívida do que filho ladrão, fia”. Diante de frases como essa, a “fia” em questão só consegue ficar triste, pois ao que tudo indica, as coisas tendem a piorar. Nos resta apenas respirar fundo e intensificar o trabalho de educar que, diante de tudo isso, tem se mostrado cada vez mais difícil.

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