
Imagine a cena: um estagiário recebe uma advertência por voltar do almoço atrasado durante seus primeiros 15 dias de trabalho. Ele protesta, acha aquilo um absurdo e diz não ter culpa pelos restaurantes da região serem péssimos.
O encarregado do setor relembra que o havia avisado várias vezes sobre os atrasos e que, caso continuasse desrespeitando o horário, seria advertido. O estagiário se recusa a assinar e vai embora gritando: “Você me ofendeu! Você não tem esse direito! Você me ofendeu!”.
Poucas horas depois, o encarregado é chamado à recepção, onde o estagiário e seu pai o aguardam. Apresentando-se como advogado, o pai vai direto ao ponto: “Eu estava pagando Uber para o meu filho ir e voltar o mais rápido possível, mesmo assim, uma hora é muito apertado para ele. Vou lhe dar a chance de reconsiderar e se desculpar com meu filho ou juro que lhe processo por falta de urbanidade!”.
Para quem pensa que esse é um caso fictício, sinto muito em desapontá-lo. A geração que cresceu sendo doutrinada pela patrulha do idioma e endeusada por pais ausentes e cheios de culpa está chegando aos postos de trabalho, levando consigo uma arma paralisante: o poder da ofensa.
O medo de ofender a geração “empoderada”, que foi criada para “reinar”, paralisa os plebeus que não querem ser considerados politicamente incorretos. E a criminalização da opinião e da palavra vêm para coroar essa monarquia tirânica e cheia de ódio. Mas ódio do bem, claro.
Do jeito que a coisa anda, sentiremos saudade da época em que éramos felizes por podermos simplesmente nos ofender em paz.
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