Por mais que a grama do vizinho pareça sempre mais verde, não existe vida perfeita. Sempre estaremos em busca de algo ou tendo de enfrentar algum problema, grande ou pequeno, mas que precisa ser resolvido. Trabalho, saúde, família, finanças e relacionamento afetivo são áreas importantes na vida de qualquer pessoa, mas viver bem não significa necessariamente estar 100% satisfeito com todas elas, mas, sim, buscar o equilíbrio entre elas.
Ter uma boa carreira profissional não implica, por exemplo, em sacrificar a vida afetiva, pois é perfeitamente possível ser bem-sucedido e, ao mesmo tempo, bem casado. Como também cuidar da saúde não significa negligenciar as finanças gastando tudo o que se tem sob o pretexto de obter melhor qualidade de vida. Mas a tendência é que as pessoas exagerem em uma área e abandonem as outras e, geralmente, esse desequilíbrio visa suprir uma falta.
A pessoa que vive para o trabalho e não pensa em absolutamente mais nada, provavelmente não tem um bom convívio familiar e, em vez de investir na melhora do relacionamento, usa a carreira como fuga. Assim como aqueles que cultuam o próprio corpo acima de todas as coisas, provavelmente são inseguros e precisam buscar autoafirmação por meio dos elogios que receberão em razão de sua aparência física. Esses são apenas alguns exemplos de como os desequilíbrios são, no fundo, formas de encobrir falhas e faltas.
E, nessa mesma toada, vem a supervalorização da autoestima que, sob uma análise mais profunda, encobre um problema que atinge um número cada vez maior de pessoas: a falta de crédito em si mesmas. Mas de onde vem isso? Como não há uma forma de responder a essa pergunta sem expor uma verdade incômoda, vou puxar o curativo de uma vez: isso vem do autoengano, isso vem de mentir para si mesmo.
Ninguém conhece mais uma pessoa do que ela mesma, portanto, cada um sabe quais são seus pontos fracos e fortes. Porém, em vez de investir no aprimoramento dos pontos fracos – o que dá bastante trabalho e não é nada agradável –, muitos preferem partir para o autoengano, fingindo que as fraquezas simplesmente não existem. Mas a questão é que não há formas efetivas de alguém fugir de si mesmo, portanto, lá no fundo, a pessoa sabe que não pode confiar em si mesma.
Ela não tem coragem, por exemplo, de abrir um negócio porque sabe que não terá disciplina para fazer o que precisa ser feito. Ela não confia na sua capacidade de gerenciar as finanças porque sabe que acabará gastando o dinheiro de forma irresponsável. Ou ela não se matricula em uma academia porque sabe que não vai comparecer por preguiça. Ou seja, as pessoas não confiam em si mesmas porque sabem que mentem para si mesmas.
Mais do que ninguém, elas têm consciência de que não são dignas de confiança simplesmente porque não cumprem o que prometem. E, para maquiar esse autoengano, vem a supervalorização da autoestima. É necessário que ela diga a todo momento que se ama, que é uma pessoa incrível e que exponha exageradamente seus feitos e suas qualidades, pois, dessa forma, as falhas ficam camufladas em meio aos autoelogios.
Mas lembre-se: todo exagero esconde uma falta e a busca pelo equilíbrio por meio da disciplina são muito mais efetivos para elevar a qualidade de vida do que uma autoestima inflada pelo gás hélio do autoengano. Cumpra o que promete a si mesmo e jamais terá que cultuar a autoestima.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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