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Análise: Sociedade hipócrita, acusadora e estúpida

Vivo ou morto, ninguém escapa da estupidez dos quem criam acusações e histórias absurdas a troco de likes para encher suas vidas vazias

Patricia Lages|Do R7

Pessoas se revelam nas redes sociais
Pessoas se revelam nas redes sociais Pessoas se revelam nas redes sociais

Por um lado, as redes sociais são inundadas por perfis nos quais as pessoas se autodescrevem como justas e ponderadas, mas por outro, elas mesmas acabam deixando escapar quem na verdade são: hipócritas, acusadoras, estúpidas. E nem os mortos escapam.

As famílias que perdem um ente querido, hoje em dia, têm de conviver com uma dor extra: comentários e julgamentos nas redes sociais. O importante para essa gente – que parece estar com muito tempo ocioso – é levantar teses ridículas e apontar culpados. E nessa falta do que fazer, muitas vezes, o próprio morto é acusado de ser o causador de sua morte.

No ano passado recebi uma sugestão de texto que simplesmente não podia acreditar. “Patricia, por que você não fala da morte do Gugu como exemplo de avareza? Está todo mundo postando que ele foi inventar de economizar [o dinheiro do conserto do ar condicionado] e pagou com a vida. O assunto tá bombando, espero ter ajudado!” Não, não ajudou em nada...

Quem disse que essa foi a intenção de Gugu? E, ainda que fosse, o que isso tem a ver com a nossa vida? Quem somos nós para julgar alguém que nem sequer está mais entre nós? Onde está a empatia e o politicamente correto de que tanto se fala? Cadê o “mais amor, por favor”? Hipocrisia pura, oportunismo puro, vontade desenfreada de ganhar likes de gente tão vazia quanto elas mesmas. Ou, ainda pior: desejo de jogar todo seu lixo interior em forma de julgamento sobre pessoas que nem conhecem.

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Há alguns dias quase ninguém sabia quem é a ex-esposa de Tom Veiga, amigo que inesperadamente nos deixou no último fim de semana. Mas bastou descobrir seu nome para inundarem seu Instagram com ataques e acusações infundadas, nas quais ela chega a ser apontada como culpada pela morte do ator (que, na verdade, sofreu um acidente vascular cerebral em casa, no Rio de Janeiro).

Vivemos em uma sociedade altamente hipócrita, cheia de preconceitos, emocionalmente doente, incapaz de cuidar da própria vida, mas que se julga apta a resolver todos os problemas dos outros. Gente que quanto menos sabe, mais acha que domina qualquer assunto e que não perde nenhuma oportunidade de ficar calada e, de repente, parecer um pouco mais inteligente do que é. E para terminar de traçar esse perfil triste, respeito não passa de uma palavra que se exige, mas não se pratica. Se nem a dor da morte é capaz de trazê-lo à tona, fica difícil imaginar que o futuro será melhor.

O “reset” que o mundo precisa é que cada um pare de falar o que é bonito enquanto pratica o que é abominável. É preciso parar de ignorar os próprios defeitos e justificar falhas e começar a trabalhar para ser a pessoa que dizem que são, mas sabem que não são. E como isso leva tempo, é melhor começar o quanto antes.

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