Patricia Lages Análise: Quem checa os checadores quando disseminam fake news?

Análise: Quem checa os checadores quando disseminam fake news?

Agência de checagem divulga comparativo equivocado de índices de inflação entre Brasil e Argentina e faz afirmação falsa

Agências de checagem também cometem gafes

Agências de checagem também cometem gafes

Divulgação / TSE

A Agência Lupa se define como “um hub de soluções de combate à desinformação por meio do ‘fact-checking’ e da educação midiática”. Trata-se de um braço do Grupo Folha que, assim como outras agências similares, coloca-se como disseminadora da verdade absoluta, mas que já divulgou diversas informações falsas.

Uma delas foi no Dia da Consciência Negra, quando a Lupa divulgou falsamente a origem de diversas expressões da Língua Portuguesa como sendo racistas. Após uma enorme repercussão negativa, em que especialistas, linguistas, professores e educadores confrontaram a informação, a própria Agência postou em seu Twitter: "A publicação tinha erros; demoramos para corrigir e não fomos transparentes".

Outra informação falsa que repercutiu bastante foi a afirmação de que o presidente Jair Bolsonaro “mentiu” ao apontar erro na tradução de uma matéria do jornal espanhol El País para o português no ano passado. Porém Bolsonaro postou em suas redes sociais as duas matérias, nas quais se vê claramente que a versão em espanhol dizia “Bolsonaro anima a los ejecutivos de Davos a invertir en el nuevo Brasil”, e o título em português foi traduzido para “O breve discurso de Bolsonaro decepciona em Davos”. Não é preciso ser fluente em espanhol para perceber que não houve tradução, mas, sim, a criação de uma versão brasileira bem diferente.

Dois dias atrás, a Lupa voltou a errar. Desta vez, ao afirmar falsamente que a inflação brasileira é 36% maior que a da Argentina. Em seu Twitter, a Lupa utiliza o índice mensal da Argentina (7,4%) e o compara com o IPCA acumulado nos últimos 12 meses no Brasil (10,07%). Ao comparar um índice mensal com um acumulado de 12 meses, a informação induz o leitor ao erro e ainda faz a afirmação falsa de que a inflação no Brasil é superior à da Argentina. O número real da inflação acumulada na Argentina, para quem quiser checar, é de 71% nos últimos 12 meses, o que é quase sete vezes maior do que a inflação brasileira.

Mas o objetivo desse “ministério da verdade” não seria justamente checar os fatos antes de publicá-los? Ou seria confundir números reais para disseminar desinformação? Não fossem as redes sociais, quem saberia que esses fatos supostamente “checados” não passam de “fake news”? A questão é que quem tem checado os checadores é a própria população, que, por meio das redes sociais, ganhou voz e vez. Porém, essas ditas agências estão trabalhando fortemente junto às redes para ridicularizar e até calar quem as expõem. 

É preciso ter cautela e checar os fatos buscando informações oficiais sem deixar de empregar uma boa dose de senso crítico, principalmente quando esses “fatos” partem de quem se autointitula representante absoluto da verdade.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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