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Análise: Quanto mais crise, mais caixa

Enquanto a população empobrece a cada dia, estados e municípios fecharam 2020 com as contas pagas e dinheiro em caixa

Patricia Lages|Do R7

Dinheiro em caixa
Dinheiro em caixa Dinheiro em caixa

Para entender essa confusão toda no país – assim como no resto do mundo – é preciso “seguir o dinheiro”, ou seja, ver quem está lucrando alto com todo o problema enquanto tenta direcionar os holofotes para uma pseudo preocupação com quem sofre por conta dele.

De acordo com informações do Banco Central, além de estados e municípios terem zerado suas dívidas, fecharam o caixa de 2020 com mais de R$ 38 bilhões de superávit primário, fazendo com que o ano da pandemia tenha sido o melhor dos últimos 29 anos financeiramente falando. O feito se deu graças ao dinheiro liberado pelo governo federal que, ao contrário de estados e municípios, viu sua dívida pública crescer. O rombo nos cofres da União chegou a R$ 743 bilhões no mesmo período.

Para se ter uma ideia, a reforma da previdência tem previsão de trazer uma economia de R$ 1,13 trilhão aos cofres públicos ao longo de dez anos, isto é, cerca de R$ 113 bilhões por ano. Porém, só com as despesas extras destinadas ao combate ao coronavírus já foram gastos o equivalente a quase sete anos dessa economia. A maior parte do valor foi direcionada ao auxílio emergencial e, em segundo lugar, ao socorro a estados e municípios. Além disso, o governo federal suspendeu o pagamento de dívidas dos governos, o que lhes rendeu um bom fôlego financeiro.

Mesmo com tanto dinheiro em caixa não temos hospitais de campanha, nem leitos ou insumos hospitalares suficientes para atender a quem precisa. O que temos visto, além da vergonhosa guerra política, é uma verdadeira farra com o dinheiro do contribuinte, onde prefeitos aumentam o próprio salário, bem como de seus assessores, governadores aumentam ICMS de produtos da cesta básica, medicamentos e até mesmo produtos e equipamentos hospitalares – não importando a mínima que estejamos enfrentando uma crise sanitária –, cortam gastos com a saúde e ampliam de forma imoral suas verbas publicitárias. E como se isso fosse pouco, há inúmeras irregularidades em compras sem licitação, contratações altamente suspeitas, superfaturamentos escandalosos e dinheiro encontrado em tudo quanto é lugar, inclusive em cuecas...

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Enquanto impedem a população de exercer seus direitos básicos, impondo-nos duras restrições sob o argumento de estarem salvando vidas, eles estão livres, leves e soltos, deitando e rolando mais do que nunca. O discurso “fique em casa e a economia a gente vê depois” não passa de pura hipocrisia, afinal de contas, se o foco estivesse de fato em salvar vidas, todo dinheiro recebido para a contingência do coronavírus teria sido usada para esse fim.

Quando se desmontam hospitais de campanha por “custarem muito caro”, o que está em primeiro lugar: vidas ou economia? E em que mundo a equação: corte o trabalho, aumente o desemprego, eleve os impostos é igual a salvar vidas? As regras dos jogos deles só beneficiam a eles mesmos e só não vê isso quem não quer.

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O histórico da política no Brasil mostra claramente que, em primeiro lugar, sempre esteve a busca por poder e dinheiro. Escândalos de corrupção e um puxando o tapete do outro são as regras do jogo, e a população já se conformou com a roubalheira, afinal, “se rouba, mas faz” ou se “rouba menos” já está de bom tamanho.

Enquanto a mamata durar esse jogo não tem porquê acabar. É muito dinheiro e muito poder nas mãos de quem nunca teve as duas coisas inadvertidamente em volumes tão generosos. Pela primeira vez, políticos tomam decisões arbitrárias, que mais prejudicam do que ajudam, contando com o apoio de boa parte da população. Quem colocaria fim a algo tão lucrativo e que, de quebra, funciona como um trampolim político de alta performance? O fim disso tudo ainda está muito longe de acontecer, pois, para quem dita as regras do jogo, quanto pior a coisa fica, melhor ainda se torna. Quanto mais crise, mais caixa.

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