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Análise: Qualquer narrativa vendida já está comprada

Discursos mudam de acordo com interesses da elite, e população aceita e defende qualquer nova narrativa imposta

Patricia Lages|Do R7

Muita gente está querendo ver cenas como esta em 2022
Muita gente está querendo ver cenas como esta em 2022 Muita gente está querendo ver cenas como esta em 2022

“As coisas não são como são. Elas são como parecem.” Ouvi essa frase quando, aos 20 e poucos anos, um ex-chefe tentava me explicar como "a vida funciona de verdade”. Eu não conseguia achar normal o teatro que estava sendo produzido na empresa para impressionar um cliente e foi essa a justificativa que ele me deu, rindo muito da minha inocência.

A questão é que o teatro funcionou, e o cliente caiu como um pato. E, quando um funcionário que não sabia do combinado saiu do script e falou a verdade, o cliente riu achando a colocação totalmente ridícula. Essa foi uma das primeiras decepções que tive na minha vida profissional, mas obviamente não foi a única, nem sequer a pior delas. Daí em diante, vi que esse não foi um caso isolado, mas, sim, uma prática bem comum em muitos segmentos, principalmente na publicidade e, infelizmente, no jornalismo.

A polêmica da vez é se o Carnaval deve ou não ser cancelado no Brasil por causa da quarta onda pela qual passa a Europa. Apesar de estarmos vivendo exatamente a mesma situação de 2020, quando o país ignorou o que acontecia no Velho Continente e todos pagamos caro pela negligência, vamos trilhando o mesmo caminho. Porém, desta vez, a narrativa mudou e deu origem a uma série de justificativas que, no fundo, não passam de desculpas mal formuladas.

Uma delas é que o país precisa aquecer a economia, tão devastada pelos lockdowns excessivos promovidos por políticos que diziam salvar vidas, mas nunca puderam comprovar a eficácia da medida. O que temos são apenas conjecturas de que “teria morrido mais gente” caso as medidas não tivessem sido tomadas. A verdade é que jamais saberemos. O que sabemos é que o discurso “a economia a gente vê depois” já quase não se ouve mais.

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Outra desculpa é que “não há como impedir as pessoas de ir para a rua no Carnaval”. Isso chega a ser absurdo; afinal de contas, foi exatamente isso que prefeitos e governadores fizeram de norte a sul do país por meses a fio. Parece que a população já se esqueceu de que pessoas foram presas simplesmente por estar na rua, comerciantes foram multados ao tentar trabalhar, passageiros foram arrancados de dentro de ônibus pela polícia e portas de estabelecimentos foram soldadas para que, forçosamente, se mantivessem fechadas.

Dizer a verdade nesse contexto teatral é ser tachado de teórico da conspiração, terraplanista, negacionista. O certo é dizer que o vírus está nas igrejas, nas escolas e no comércio em geral, mas não frequenta de forma alguma blocos de Carnaval mesmo com milhares de pessoas aglomeradas e sem máscara. A ordem agora é não criticar o Carnaval, pois ele salvará a economia sem pôr sequer uma pessoa em risco. O Brasil realmente não é para amadores.

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