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Análise: proibição de tratamento “em prol da vida”

Políticos brasileiros nunca tiveram tanta autoridade sobre a população, mas ainda querem mais: ditar o que médicos podem ou não prescrever

Patricia Lages|Do R7

Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina
Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina

A forma como a pandemia vem sendo conduzida no Brasil, com a politização de tudo e qualquer coisa e os shows diários de ataques infantiloides entre quem deveria estar trabalhando triplicado para nos tirar dessa crise, chega a dar náuseas.

Os políticos brasileiros nunca tiveram tanto poder nas mãos e, como é de se esperar todas as vezes que alguém recebe algo muito além da conta, estão metendo os pés pelas mãos. Agem como se estivessem embriagados, sem falar coisa com coisa e fazendo as pessoas ao redor pagarem por todos os seus vexames. Apresentam-se como salvadores de vidas como se isso dependesse deles e usam a palavra ciência como se fosse vírgula. Porém, a ciência, a razão e as boas intenções são as últimas colocadas em uma fila de estupidezes que parece não ter fim.

A lista de atitudes irracionais é imensa e está se tornando até repetitiva: diminuem o horário do comércio para “evitar aglomerações” sabendo que isso causa o efeito contrário. Demarcam distância de dois metros entre as pessoas nos saguões dos aeroportos e depois liberam para que essas mesmas pessoas sentem umas ao lado das outras, cotovelos com cotovelos, podendo até tirar a máscara para comer. Querem fiscalizar se há muita gente dentro das nossas casas, enquanto se fazem de cegos para o transporte coletivo lotado. 

Mas, não contentes em já terem recebido o aval da própria população para lhes tirar o trabalho, o direito de ir e vir, cobrar impostos ainda mais pesados – inclusive sobre produtos de primeira necessidade e de saúde em plena pandemia – e de determinar a que hora todos devem estar dentro de casa, agora querem definir também o que a classe médica pode ou não receitar para seus pacientes.

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A “ciência” dos políticos prega que medicamentos que estão há décadas no mercado, de uma hora para outra, passaram a ser venenos mortais e o médico que ousar prescrever qualquer tentativa de tratamento precoce é um irresponsável. É preciso ir para casa, esperar piorar e, só então, correr para o hospital lotado mais próximo. Chega a ser inacreditável ver uma população rendida aos desmandos de quem só tem olhos para o poder a ponto de achar normal que prefeitos, governadores e partidos políticos impeçam médicos de tratarem seus pacientes da maneira que julgam ser mais adequada.

Na década de 1980, com o surgimento dos primeiros casos de AIDS, ninguém sabia como enfrentar uma doença tão misteriosa e mortal. Diversos tratamentos foram testados até que, em 1995, os Estados Unidos aprovaram uma nova classe de antirretrovirais, o que aumentou as opções de tratamento. Ao longo de vários anos as tentativas de buscar cura ou sobrevida ficaram a cargo da ciência e da medicina, sempre em comum acordo entre médicos e pacientes, sem a intervenção do Estado, afinal de contas, não se tratava de um assunto político. Alguns tratamentos deram certo outros não, mas ninguém foi privado de tentar. Porém, quando a questão envolve a covid-19, há assuntos que se tornaram absolutamente proibidos e quem insiste em trazê-los à baila é taxado de negacionista, genocida, terraplanista, anticiência etc. 

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Mas e quando essa pessoa é o presidente do Conselho Federal de Medicina? Na manhã desta quinta-feira, Mauro Ribeiro, presidente do CFM declarou, em entrevista à rádio Jovem Pan que “há trabalhos que mostram o benefício [do tratamento] na fase inicial e outros não. Essa é a realidade.” E acrescentou que “o CFM não incentiva o tratamento precoce ou condena, tampouco bane” e que “falar que a hidroxicloroquina e a invermectina matam é falácia. Quem quer fazer o tratamento precoce, que faça. Quem não quiser, não faça.” Ribeiro também afirmou que “dizer que o tratamento precoce não tem efeito é mentira.”

E as perguntas que ficam são: a quem interessa intervir tão ostensivamente na vida as pessoas? Qual é o benefício de quem tem de trabalhar escondido, como se fosse bandido, apenas para não passar fome ou ser despejado? Que benefício há quando alguém é parado pela polícia porque foi à farmácia às dez da noite? E quem sai ganhando quando se torna proibido o acesso a um tratamento médico?

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São perguntas simples, mas que, para muitos, soam como verdadeiras ameaças “à ciência e à vida”. Porém, é preciso lembrar que pensar sempre foi perigoso e que questionar quem se coloca acima do bem e do mal é bastante indigesto. A boa notícia é que para a indigestão há tratamento, mas para o que estamos enfrentando no momento, aparentemente não há. Ou, se houver, deve estar proibido.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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