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Análise: Novos desafios do empreendedorismo feminino

Desde 2014, a ONU estabeleceu 19 de novembro como Dia do Empreendedorismo Feminino, mas quais têm sido os maiores desafios para as mulheres no Brasil?

Patricia Lages|Do R7

Empreendedorismo feminino
Empreendedorismo feminino Empreendedorismo feminino

A primeira coisa que pensei quando estava em um ônibus a caminho de uma papelaria que pretendia comprar foi: “A partir de agora não posso ficar doente!”. Isso já faz 25 anos e, no fim das contas, acabei optando por não fechar o negócio. Até aquele momento, eu acreditava que ter minha própria loja significava poder trabalhar a hora que quisesse, sem um chefe para me importunar, com funcionários que fizessem todo trabalho duro e com uma renda certamente maior que o meu salário. Porém, quando me deparei com o fato de que dependeria 100% de mim – afinal, não teria a mínima condição de arcar com todos os direitos de um funcionário – e que os custos apenas para manter as portas abertas eram enormes, caí na real e voltei para o ponto de ônibus.

Depois daquele choque de realidade, ter meu próprio negócio passou a ser um sonho distante, mas que nunca abandonou completamente os meus pensamentos. Naquela época a palavra empreendedorismo sequer era utilizada e um dos poucos estímulos vinha do Sebrae, cujo slogan era “quem tem conhecimento, vai para frente”.

Cinco anos mais tarde, no início dos anos 2000, depois de uma tentativa frustrada de empreender que me deixou uma dívida enorme, percebi o quanto faltava incentivo para as pessoas dispostas a crescer e a criar emprego e renda. Vi claramente que meu negócio não tinha ido para frente por falta de conhecimento, então, foquei em aprender o caminho do empreendedorismo, pois não estava disposta a desistir.

Passados 20 anos, posso dizer que estou no caminho certo e, com muita satisfação, parte do meu trabalho é mostrar a outras pessoas que empreender é possível. Por vários anos participei de grupos de empreendedorismo feminino passando o conhecimento que adquiri ao longo desse período. Porém, de uns tempos para cá, vários deles – que antes visavam o empoderamento pelo trabalho – passaram a atuar como disseminadores de políticas identitárias que vitimizam as mulheres o tempo todo, além de incitar o ódio aos homens e a reforçar divisões raciais.

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Diante dessa triste realidade, creio que esse seja o maior desafio do empreendedorismo feminino atualmente: que as mulheres não permitam que esses grupos as reduzam a uma mera massa de manobra política. Infelizmente, um movimento que nasceu da vontade legítima de auxiliar na difícil jornada de empreender neste país, se transformou em mais uma armadilha que faz exatamente o que diz combater: vitimiza em vez de empoderar, divide em vez de unir, usa em vez de prestar ajuda.

Empreender requer muito mais do que disposição e uma boa ideia na cabeça. É preciso ter atenção aos detalhes, aprender a ler as entrelinhas e saber que ajuda de verdade virá apenas de nós mesmas e de um pequeno e seleto grupo que ainda conserva suas raízes. Esse é o primeiro grande desafio, mas que, sem dúvida, podemos vencer.

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Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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