Resumindo a Notícia
- Prepare-se para receber diversos insultos da “turma das virtudes” ao desobedecer "regras"
- A mais nova sinalização de virtude é o medo imposto por governos que querem 'poupar' vidas
- A “nova virtude” tem outra lista de requisitos e você precisa se adequar para não ser julgado
- Única coisa que importa agora é vacinar às pressas 100% da humanidade contra a covid-19
Dirige sem máscara ainda que sozinho? 'Turma das virtudes' costuma destilar o 'ódio do bem'
Roosevelt Cassio/Reuters - 18.04.2020Se você não demonstra ter se tornado neurótico por limpeza, se não faz questão de deixar claro que consome litros de álcool gel, se dirige o próprio carro sem máscara, ainda que sozinho, se não diz em tom solene, para cada pessoa que encontra, que gostaria muito de cumprimenta-la, mas precisa manter distanciamento para sua segurança e, principalmente, se está tentando voltar à vida normal, prepare-se para receber os mais diversos insultos por parte da “turma das virtudes”, aquela também conhecida por destilar o chamado “ódio do bem”.
É que em tempos de pandemia, quando inexplicavelmente os governos passaram a supervalorizar vidas – aquelas mesmas que jamais ligaram a mínima –, a mais nova sinalização de virtude é o medo. E, obviamente, quem não demonstra ter a alta dose de medo exigida para alcançar o nível de virtude é um negacionista, irresponsável e genocida. Enfim, o novo termômetro “do bem” é: quanto mais medroso, mais virtuoso.
Se você quer ser a virtude em pessoa, não é preciso manter boa conduta, ser correto, verdadeiro, fiel ou ter moral ilibada, pois a “nova virtude” tem outra lista de requisitos. Aqui vão três deles:
Diga que as escolas devem permanecer fechadas por serem locais com alto índice de contágio, mesmo que tenham sido liberadas para as eleições e mesmo que não haja nenhum dado concreto que confirme a informação. Diga que as crianças somente ficarão seguras se permanecerem dentro de casa, ainda que pedagogos, educadores, psicólogos e psiquiatras afirmem exatamente o contrário.
E faça vista grossa para os casos de as crianças frequentarem parques, praças, festinhas ou saírem para quaisquer outros lugares. Nesses casos você deve dizer que o índice de contágio entre elas é muito baixo. Mas só nesses casos, hein!
Não se atreva a dizer que as pessoas precisam sair para trabalhar só porque têm filhos para sustentar e contas a pagar. Não é hora de falar em dinheiro, é momento de focar apenas em manter-se vivo. Para esses insensíveis que não amam a vida, faça sempre perguntas como: “a vida tem preço?” ou “o que você vai fazer quando um parente seu precisar de um respirador?” E fique à vontade para tocar o terror usando frases do tipo: “vai trabalhar, vai mesmo, sai de casa! Aproveita e junta bastante dinheiro para pagar o enterro da família, tá?”
Ignore totalmente o aumento da pobreza, os recordes no número de desempregados e que o Brasil teve o maior índice de inflação entre os países emergentes durante a pandemia – segundo pesquisa da escola de negócios de Harvard desenvolvida por Alberto Cavallo – e que milhares de empresas fecharam as portas sem ter qualquer esperança de reabertura por conta de dívidas acumuladas que ainda terão de pagar.
As únicas mortes que realmente importam são as causadas pela covid-19. Tenha na ponta da língua o número atualizado de infectados e mortos, mas não se atente às mortes por nenhuma outra causa, ainda mais se estiverem ligadas aos malefícios da quarentena. Aliás, nem pense em dizer que a quarentena traz malefícios, pois ela tem que ser tratada como a medida número um em prol da vida, ainda que a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) tenha sido clara em não recomendar o confinamento a fim de evitar o agravamento da pobreza.
Não se atreva a mencionar os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a fome que dão conta de que, além das 820 milhões de pessoas que já sofriam desse mal, a pandemia acrescentou mais 132 milhões ao montante. Ignore solenemente que quase 1 bilhão de pessoas no mundo passarão fome e, portanto, morrerão ou tentarão remediar doenças e consequências em razão dela. E, claro, não diga jamais que a “vacina” para erradicar esse mal da vida de 15% da população do planeta existe desde sempre: comida.
A única coisa que importa agora é vacinar – às pressas – 100% da humanidade contra uma doença cuja letalidade é inferior a 1%. Para isso, obviamente, é necessário fazer com que todas as pessoas confiem cegamente em algo cuja eficácia é questionável. Mas isso é moleza quando o raciocínio é obscurecido pelo medo, ou melhor, pela nova virtude.
Resumindo: repita tudo o que a grande mídia disser, ainda que não faça o menor sentido. Dessa forma você fará parte da turma das virtudes e poderá apontar o dedo para todos os genocidas que cruzarem o seu caminho, destilando todo seu ódio do bem.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.