Epicteto, filósofo grego pertencente à Escola Estoica, fez a seguinte afirmação: “Não são os acontecimentos em si que perturbam as pessoas, mas os julgamentos que elas fazem a respeito deles.” Diante disso, temos duas questões a analisar: a preocupação com a forma que os outros vão julgar os acontecimentos e a maneira como nós mesmos percebemos os fatos.
Glossofobia: fobia de falar em público é maior do que medo da morte
CanvaE se há um fato curioso que pode ilustrar o pensamento milenar de Epicteto é um levantamento recente, feito em 2021, pelo jornal britânico The Times, revelando que o maior medo do ser humano moderno não é a morte, mas sim, a glossofobia, ou seja, o medo falar em público.
Embora o ato de falar em público consista apenas nisso: comunicar-se ou passar informações a um grupo de pessoas, quem sofre desse tipo de fobia considera muito mais o julgamento que pode receber do que o acontecimento em si.
Miyamoto Musashi, um espadachim do século 16, dizia que nossos olhos enxergam os fatos de formas diferentes, pois temos um “olho que vê” e um “olho que observa”. Enquanto o olho que vê se atém aos acontecimentos, o olho que observa cria situações e preocupações a partir dos julgamentos que faz em relação aos fatos ou, ainda, que outras pessoas possam fazer.
Ou seja, uma parte da nossa visão é racional e objetiva e a outra é emocional e subjetiva. Apesar de que ninguém paga para assistir uma palestra com o intuito de ridicularizar o palestrante, por exemplo, se o orador sofre de glossofobia, sua mente criará preocupações que podem atrapalhá-lo ou até mesmo impedí-lo de realizar a tarefa.
Ainda que esse sofrimento seja fruto de suposições – “o que vão pensar de mim”; “vou passar vergonha”; “todos vão rir de mim” – o olho que observa acaba ganhando mais força do que o olho que apenas vê. E, uma vez aceita a incapacidade – no caso, de palestrar – a culpa será colocada no acontecimento – no caso, a palestra – e não nas suposições que limitaram a capacidade.
O que precisamos distinguir cada vez que nos vemos diante de algo que nos desafia são os acontecimentos em si das preocupações. A supervalorização de uma inquietação, aflição ou angústia, mesmo sem fundamento, pode transformá-la em algo tão grande a ponto de neutralizar nossas capacidades.
O fato é que não vale a pena nos deixarmos vencer por meras suposições.
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