Viajo bastante pelas cinco regiões do Brasil e em mais de 90% das vezes a trabalho. Com cronogramas apertados, sem poder curtir o que as cidades têm a oferecer, trago apenas as lembranças das pessoas com quem geralmente convivo por poucos dias.
Anos atrás, me sentia em casa desde a recepção nos aeroportos. Motoristas bem-educados esperavam pacientemente com um sorriso e logo se ofereciam para ajudar com a bagagem. Já no carro, perguntavam minhas preferências: ar condicionado ou janelas abertas? Deseja ouvir o rádio ou mantemos desligado? Gostaria de passar em algum lugar antes de irmos ao hotel? Tudo isso era bastante comum. Era, não é mais... Hoje, quando esse tipo de coisa acontece recebo como uma grata surpresa.
O normal agora é sermos recepcionados com um “nossa, que demora!” e termos de seguir um motorista que nem sequer olhou para a bagagem e ainda se movimenta a passos largos enquanto temos praticamente que correr com tudo na mão para não o perder de vista.
Ainda carregando toda a bagagem, atravessamos estacionamentos enormes andando o mais rápido possível, afinal, o motorista está com pressa e fez questão de deixar isso muito claro. No carro, o som alto evita que possamos pedir qualquer coisa que seja, portanto, não há comunicação (a não ser quando ele xinga outro motorista ou pedestre).
No hotel a coisa não melhora. O check-in é lento e temos sempre a impressão de estarmos atrapalhando. As explicações são robóticas, mas eles são muitos solícitos em dizer que, se houver qualquer dúvida, é só entrar no site do hotel que está tudo lá.
Dia desses um funcionário correu na minha frente assim que a porta do elevador se abriu. Como correr olhando a tela do celular não é tarefa fácil, ele tropeçou na minha mala e fez cara de quem não gostou do fato de eu estar ali. Uma vez no elevador, percebo que ele não marca em que andar vai. Dou bom dia e pergunto qual é seu andar, ao que ele responde, sem tirar os olhos do celular: “quinto!”, obviamente, sem se importar que era uma hóspede que o estava “atendendo”.
Se você acha que estou exigindo demais, que uma vez que a bagagem é minha eu mesma tenho de carregar, que motoristas só precisam nos levar do ponto A ao ponto B e que recepcionistas de hotel não têm obrigação de serem simpáticos, repense seus conceitos.
Antes, éramos um povo empático, mesmo com todas as intempéries da vida, e agíamos com cortesia gratuitamente. Hoje, nem pagando recebemos um tratamento minimamente educado. Para que tenhamos um futuro melhor, às vezes é preciso olhar para trás e recuperarmos o que ficou pelo caminho. Educação ainda é o maior indicador de civilidade.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta os quadros "Economia doméstica" no programa "Mulheres" TV Gazeta e "Economia a Dois" na Escola do Amor, Record TV. No YouTube mantém o canal "Patrícia Lages - Dicas de Economia", com vídeos todas as segundas e quartas.