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Análise: Ignorância não é uma bênção e vitimismo é uma maldição

Conhecimento abaixo da média e despreocupação com o aprendizado são ingredientes para uma receita indigesta

Patricia Lages|Do R7

Ao contrário do que se propõe, a cultura vitimista não defende grupos vulneráveis contra os ataques de seus agressores. Seu trabalho é exatamente o oposto: convencer pessoas perfeitamente capazes de que elas são vítimas e, como tais, precisam de representantes para protegê-las. O vitimismo é, na verdade, uma teia que enreda a vítima enquanto a distrai com um discurso paternal.

Também faz parte dessa narrativa enganosa a vitimização da ignorância, colocando quem leva o ensino, bem como quem cobra resultados, na posição de inimigos, de intolerantes e até mesmo de preconceituosos.

O vitimismo precisa convencer as pessoas a se conformarem com sua falta de conhecimento, implantando a ideia de que elas não têm “culpa” por não saberem o que deveriam saber, de que não há do que se envergonhar, que o Estado, a escola, os professores e a sociedade falhou com elas e que, por causa de tudo isso, o mundo tem de aceitá-las com todas as suas limitações.

Para que a estratégia funcione, é preciso que a vítima entenda que não possui capacidade para aprender, crescer e muito menos quebrar o ciclo de ignorância e pobreza no qual a maioria dos brasileiros vive. É preciso persuadir as pessoas de que elas não são capazes sem que recebam ajuda, cotas, vantagens e todos os “descontos” aos quais dizem ter direito simplesmente por terem o grande mérito de serem vítimas.

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São milhões de brasileiros com dificuldade para encontrar emprego, obter qualificação e até mesmo organizar a vida e as finanças
São milhões de brasileiros com dificuldade para encontrar emprego, obter qualificação e até mesmo organizar a vida e as finanças São milhões de brasileiros com dificuldade para encontrar emprego, obter qualificação e até mesmo organizar a vida e as finanças

A decadência do ensino no Brasil já era notória, porém, as aulas on-line durante dois anos de pandemia escancararam a situação lamentável da educação. Até os pais mais desatentos puderam perceber que, como estudantes, seus filhos estão tão atrasados quanto despreocupados. Os professores, em sua maioria comprometidos com a missão de ensinar, se encontram muitas vezes perdidos, sem saber mais o que fazer para obter a atenção e o interesse de alunos cada vez mais dispersos e distantes.

O analfabetismo funcional é uma realidade de norte a sul do país, mas a escola parece estar mais preocupada com ideologias e doutrinações políticas do que em desenvolver capacidades básicas para garantir dignidade ao aluno. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, além dos 11 milhões de analfabetos, estima-se que 29% da população brasileira seja analfabeta funcional, o que pode ultrapassar a marca dos 50 milhões de pessoas.

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São brasileiros considerados alfabetizados por conhecerem letras e números e por conseguirem decodificar palavras e frases curtas, mas que não possuem a capacidade de interpretar textos simples ou de fazer operações matemáticas. Na prática, são milhões de brasileiros com dificuldade para encontrar emprego, obter qualificação e até mesmo organizar a vida e as finanças. Não é à toa que o país tem mais de 62 milhões de inadimplentes, cujo principal motivo de endividamento é a má gestão financeira. Se grande parte das pessoas mal consegue dominar operações matemáticas básicas, como entenderão a ação dos juros compostos que fazem suas dívidas dobrarem a cada cinco ou seis meses?

Diante disso tudo, as perguntas que sempre me faço continuam as mesmas: a quem interessa o nível de ignorância em que este grande país chegou? Quem são as pessoas que se beneficiam com essa crescente decadência? E, por fim: como será o futuro de uma nação onde a lacração vale mais do que a educação?

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