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Análise: Falta de letramento é mais grave do que parece

Método de ensino brasileiro proporciona o reconhecimento de letras e palavras, mas não leva o aluno a interpretar texto

Patricia Lages|Do R7

Para constatar a fragilidade do método de ensino de uma forma prática e bem simples, basta entrar nas redes sociais e tentar decifrar os enigmas ali expostos. Isso porque, nelas, além de encontrar todo tipo de atentado à língua portuguesa, será fácil notar que o maior problema é, na verdade, a falta de interpretação de texto.

O método Paulo Freire, utilizado hoje em boa parte das escolas públicas, maquia o analfabetismo, pois se fundamenta em ensinar o aluno a reconhecer signos, mas não o leva necessariamente a um real letramento. Ou seja, a criança assimila rapidamente o signo que representa cada letra, aprende a juntar letras para formar sílabas e, em seguida, já começa a formar palavras. Essa rapidez faz com que o método pareça bastante efetivo, afinal de contas, a criança realmente se torna capaz de ler, melhorando consideravelmente os índices de alfabetização no Brasil.

O aluno que aprende a ler precisa ser levado ao desenvolvimento de outras capacidades, como a de analisar o que se lê
O aluno que aprende a ler precisa ser levado ao desenvolvimento de outras capacidades, como a de analisar o que se lê O aluno que aprende a ler precisa ser levado ao desenvolvimento de outras capacidades, como a de analisar o que se lê

Porém, esse é apenas o primeiro passo para o letramento que, por sua vez, consiste não só em saber ler, mas em entender o que se lê, e é aí que o método já começa a tropeçar. Para além do entendimento, é necessário levar o aluno ao desenvolvimento de outras capacidades importantíssimas, como analisar o que se lê, saber interpretar o que o texto não diz, ou seja, entender as entrelinhas para, mais adiante, ter o poder de avaliar o valor literário de um texto a ponto de reconhecer se está bem construído, se há coesão, coerência etc.

Essa fragilidade no ensino fez ampliar os chamados analfabetos funcionais, que nada mais é do que uma posição intermediária entre o analfabetismo e o letramento, levando o aluno a crer que isso é o suficiente para “ler o meio em que vive”, como prega o “paulofreirianismo”. A leitura, porém, é um exercício que vai muito além da decodificação dos signos presentes no meio em que se vive.

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Limitar um aluno a entender minimamente seu próprio contexto de vida é tirar dele o elemento mais importante do gesto pedagógico que é justamente elevá-lo a uma posição à qual ele não tem acesso. Cada estudante deve ser capaz de ver o mundo sob ângulos diferentes, entender que há outros meios e pontos de vista e, em consequência disso, construir um conhecimento tal que o possibilite a conquistar, por si mesmo, patamares mais altos.

Se hoje as pessoas mal conseguem entender uma postagem corriqueira em uma rede social, como entenderão textos mais elaborados, um contrato ou uma lei? Como construirão seu próprio conhecimento se sempre dependem de alguém que lhes explique o óbvio? Um povo sem conhecimento está fadado ao sofrimento, pois se coloca à mercê da ação de pessoas inescrupulosas que, ao longo dos anos, trabalharam sorrateiramente na semeadura da ignorância que, infelizmente, já está rendendo seus frutos podres.

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De um lado, temos um método de “emburrecimento” sistemático travestido de inclusivo e empático. E de outro, temos pais assoberbados de trabalho e contas a pagar, sem tempo para avaliar o aprendizado dos filhos. Não é difícil saber qual será o resultado dessa equação. Difícil mesmo é que nossa sociedade entenda que o ensino brasileiro está na contramão do progresso e cada vez mais sem nenhuma ordem.

Autora

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Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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