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Análise: Estamos em '1984', e governo institui 'Ministério da Verdade'

Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia é criada a toque de caixa e faz parte de órgão que defende interesses do governo

Patricia Lages|Do R7

Lula e o novo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias
Lula e o novo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias Lula e o novo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias

E não é que a “teoria da conspiração” não era teoria nem muito menos conspiração? Finalmente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu terceiro mandato, conseguiu emplacar o que tentava havia anos: criar seu próprio “Ministério da Verdade”. A exemplo da obra distópica 1984, de George Orwell, agora, a recém-criada Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia poderá definir o que é fake e o que é fato.

Em sua obra, Orwell conta a história de um país governado por ditadores que controlam e vigiam constantemente seus cidadãos, tanto no que fazem quanto até mesmo no que sentem, por meio de distorções da língua, mudando o sentido das palavras. E se qualquer pessoa, fosse quem fosse, resolvesse expor os trambiques ou apenas criticasse o governo — que obviamente era corrupto, mas se dizia o paladino de todas as virtudes —, pagaria caro pela desobediência.

Por aqui não está muito diferente. Afinal de contas, já temos uma cartilha que propõe banir 40 palavras do nosso vocabulário, sob o pretexto de serem racistas e preconceituosas (embora a própria cartilha diga que há outras interpretações). E, desde o dia 2 de janeiro, temos também um novo órgão, que entende que “defesa da democracia” é combater a “desinformação sobre políticas públicas”.

Há vários pontos de atenção a respeito disso, e um deles é que não há no Brasil nenhum ordenamento jurídico que defina o que é desinformação, e outro é com respeito a quem a nova procuradoria vai defender. Seriam os cidadãos? Claro que não!

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Você que pensava que a “regulação da internet e dos meios de comunicação”, que Lula cansou de prometer que faria, era apenas para livrar a população da enxurrada de fake news que se instalou neste país — como diria minha avó —, caíste do cavalo.

O novo órgão é ligado à Advocacia-Geral da União (AGU), cuja função é defender os interesses do governo na Justiça. Vou repetir: defender os interesses do governo. Do go-ver-no. Ou seja, não tem nada a ver com proteger a população contra “discursos de ódio” ou contra o bombardeio de fake news, mas tem tudo a ver com proteger o governo contra qualquer tipo de crítica.

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Para a AGU, desinformação é "mentira voluntária, dolosa, com o objetivo claro de prejudicar a correta execução das políticas públicas com prejuízo à sociedade e com o objetivo de promover ataques deliberados aos membros dos Poderes com mentiras que efetivamente embaracem o exercício de suas funções públicas”.

Ou seja, qualquer coisa que a Procuradoria — que defende os interesses do governo — entender como prejudicial às políticas públicas ou que ataque “membros dos Poderes” poderá ser considerada mentira ou desinformação.

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Quero deixar registrado aqui os parabéns a todos os jornalistas que apoiaram a regulação da mídia, que abertamente fizeram campanha para que o “amor voltasse” e que trabalharam incansavelmente produzindo desinformação e notícias falsas contra o governo anterior — que sempre permitiu que o fizessem livremente. Parabéns, pois “o amor venceu”!

A liberdade de imprensa está com os dias contados e os maiores meios de comunicação deste país contribuíram para isso. Mas lembrem-se, caros colegas prestes a serem amordaçados, que “o Grande Irmão zela por ti” e que seu lema, esse sim, pode ser dito e repetido a todo momento, sem moderação: “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”. E a mentira é a nova verdade.

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