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Análise: É mais fácil acreditar no mais difícil

Ganhar na Mega-Sena com uma aposta simples de R$ 4,50 é mais difícil do que engravidar de quíntuplos

Patricia Lages|Do R7

Ideia comum de que investir é coisa de rico contribui para inadimplência e mau uso do dinheiro
Ideia comum de que investir é coisa de rico contribui para inadimplência e mau uso do dinheiro Ideia comum de que investir é coisa de rico contribui para inadimplência e mau uso do dinheiro

Uma matéria muito interessante de Hellen Leite, da nossa redação de Brasília, cita seis coisas mais factíveis de acontecer do que acertar na Mega-Sena com uma aposta simples de R$ 4,50. Entre elas estão: engravidar de quíntuplos, cuja chance é de uma em 40 milhões, e morrer atingido por um meteorito, fato que, supostamente, teria acontecido com uma única pessoa, no Iraque, mais de 100 anos atrás.

A questão é que, por mais que seja improvável que alguém ganhe na Mega-Sena e embolse milhões de reais a partir de uma aposta de menos de 5 reais, o que não faltam são pessoas “fazendo uma fezinha” religiosamente. Tudo bem que as pessoas não saibam que é mais fácil ser atacado por um tubarão do que ganhar no jogo, mas o problema é quando elas ignoram o quanto vão perdendo ao longo dos anos por crerem em uma possibilidade quase irreal, em vez de usarem seu dinheiro de uma forma mais concreta.

Dinheiro em apostas renderia bolada em 25 anos
Dinheiro em apostas renderia bolada em 25 anos Dinheiro em apostas renderia bolada em 25 anos

Uma vez que a matemática não permite interpretações dúbias, vamos a ela. Se uma pessoa que joga duas vezes por semana — fazendo a aposta mínima de 6 palpites a R$ 4,50 cada — colocasse esses R$ 36 mensais na poupança (rendendo 0,5% ao mês), em 25 anos teria poupado R$ 10.800 e recebido R$ 14.150 de juros, o que somaria quase R$ 25 mil reais. Em outras palavras, ao longo de 25 anos ela teria potencialmente jogado no lixo cerca de mil reais por ano.

Considerando a possibilidade de essa pessoa fazer um único jogo por semana com 7 palpites, a R$ 31 cada, gastaria R$ 124 por mês. Na poupança, mesmo com os rendimentos pífios atuais, em 25 anos, teria um total superior a R$ 85 mil. E caso fizesse a “fezinha” com 8 palpites semanais (a R$ 126 cada), teria ao longo do mesmo período quase R$ 350 mil.

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Mas crer no poder dos juros compostos — que são reais e incontestáveis — é mais difícil do que crer em Papai Noel, coelho da Páscoa e ganhar na Mega-Sena. Enquanto a crença ditar que é impossível poupar no Brasil, que investir é coisa de rico e que para ter dinheiro só ganhando uma bolada apostando “um pouquinho” por semana, continuaremos sendo o país dos recordes de inadimplência e mau uso do dinheiro.

Nada contra fazer uma aposta — embora eu não aconselhe isso nem mesmo a um provável pior inimigo —, mas não é possível ficar indiferente ao testemunhar pessoas que mal têm o que comer apostando semana após semana por crerem que essa é a fórmula para se dar bem na vida. Se o brasileiro fosse um pouco mais cético com certas coisas como é com outras, acredito que estaríamos em outro patamar como nação.

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