Uma matéria muito interessante de Hellen Leite, da nossa redação de Brasília, cita seis coisas mais factíveis de acontecer do que acertar na Mega-Sena com uma aposta simples de R$ 4,50. Entre elas estão: engravidar de quíntuplos, cuja chance é de uma em 40 milhões, e morrer atingido por um meteorito, fato que, supostamente, teria acontecido com uma única pessoa, no Iraque, mais de 100 anos atrás.
A questão é que, por mais que seja improvável que alguém ganhe na Mega-Sena e embolse milhões de reais a partir de uma aposta de menos de 5 reais, o que não faltam são pessoas “fazendo uma fezinha” religiosamente. Tudo bem que as pessoas não saibam que é mais fácil ser atacado por um tubarão do que ganhar no jogo, mas o problema é quando elas ignoram o quanto vão perdendo ao longo dos anos por crerem em uma possibilidade quase irreal, em vez de usarem seu dinheiro de uma forma mais concreta.
Uma vez que a matemática não permite interpretações dúbias, vamos a ela. Se uma pessoa que joga duas vezes por semana — fazendo a aposta mínima de 6 palpites a R$ 4,50 cada — colocasse esses R$ 36 mensais na poupança (rendendo 0,5% ao mês), em 25 anos teria poupado R$ 10.800 e recebido R$ 14.150 de juros, o que somaria quase R$ 25 mil reais. Em outras palavras, ao longo de 25 anos ela teria potencialmente jogado no lixo cerca de mil reais por ano.
Considerando a possibilidade de essa pessoa fazer um único jogo por semana com 7 palpites, a R$ 31 cada, gastaria R$ 124 por mês. Na poupança, mesmo com os rendimentos pífios atuais, em 25 anos, teria um total superior a R$ 85 mil. E caso fizesse a “fezinha” com 8 palpites semanais (a R$ 126 cada), teria ao longo do mesmo período quase R$ 350 mil.
Mas crer no poder dos juros compostos — que são reais e incontestáveis — é mais difícil do que crer em Papai Noel, coelho da Páscoa e ganhar na Mega-Sena. Enquanto a crença ditar que é impossível poupar no Brasil, que investir é coisa de rico e que para ter dinheiro só ganhando uma bolada apostando “um pouquinho” por semana, continuaremos sendo o país dos recordes de inadimplência e mau uso do dinheiro.
Nada contra fazer uma aposta — embora eu não aconselhe isso nem mesmo a um provável pior inimigo —, mas não é possível ficar indiferente ao testemunhar pessoas que mal têm o que comer apostando semana após semana por crerem que essa é a fórmula para se dar bem na vida. Se o brasileiro fosse um pouco mais cético com certas coisas como é com outras, acredito que estaríamos em outro patamar como nação.