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Análise: Colocando lobos para cuidar de ovelhas

Piada pronta: ONU elege o Irã como membro da comissão de direitos das mulheres a partir de 2022 para um mandato de quatro anos

Patricia Lages|Do R7

Mulher passeia ao lado de imagem da bandeira do Irã
Mulher passeia ao lado de imagem da bandeira do Irã Mulher passeia ao lado de imagem da bandeira do Irã

Imagine a cena: uma mulher tem o desejo de assistir um jogo de futebol ao vivo, porém, como as autoridades de seu país não permitem, ela se veste de homem e segue em direção ao estádio. Chegando lá, seu disfarce é descoberto e ela é detida pela polícia. Temendo os maus tratos na cadeia, a mulher ateia fogo em si mesma diante do tribunal onde seria julgada por seu “crime” e morre dias depois em um hospital.

Essa história não é ficção e nem aconteceu no século passado, mas sim, há menos de dois anos. Essa mulher se chamava Sahar Khodayari, tinha 29 anos e esse país é o Irã. Sim, o Irã, o mesmo país que acaba de ser eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU) como membro da Comissão sobre o Status da Mulher, que nada mais é do que o principal órgão global para empoderar mulheres e fomentar a igualdade de gênero.

Antes da Revolução Islâmica de 1979, as mulheres iranianas viviam em pé de igualdade com o resto do mundo. Votavam, se candidatavam a cargos públicos, frequentavam universidades, restaurantes, faziam piqueniques – programas muito populares à época – e se vestiam como as mulheres ocidentais: jeans, blusas de mangas curtas e até minissaias.

Hoje, porém, elas literalmente têm de se cobrir da cabeça aos pés, mesmo sob um calor que pode passar dos 40 graus. Mostrar os cabelos é proibido, portanto, o hijab (véu islâmico) tem de ser usado por religiosas ou não, o que inclui mulheres estrangeiras. Elas também não podem viajar ou trabalhar sem que um homem (marido ou parente) autorize e são segregadas nas escolas, universidades, locais de trabalho e até nos ônibus, onde só podem viajar na parte de trás. Além disso, tudo o que está relacionado à diversão só é permitido aos homens.

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No Irã, as mulheres não são apenas tratadas como se fossem inferiores, mas são consideradas inferiores por força de lei, conforme determina a sharia (lei islâmica).

Quem rege o país é seu líder religioso, que possui mandato vitalício com poderes ilimitados, incluído o de demitir o presidente, caso este não respeite as leis do Islã ou seja lá pelo motivo que for. É esse país que, a partir de 2022, fará parte do mais importante órgão de promoção dos direitos das mulheres por um período de quatro anos. A eleição do Irã causou indignação principalmente às iranianas, tanto dentro quando fora do país. Pelo menos três associações de mulheres iranianas – na França, Itália e Suécia – consideraram a escolha um “insulto”.

Essa é apenas mais uma demonstração do quanto o mundo está de cabeça para baixo. Agora, além de todos os desafios que já enfrentamos, teremos de lidar também com a nomeação de um lobo para defender o direito das ovelhas.

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