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Análise: Cidade de São Paulo caminha para o "efeito cobra"

Rodízio rígido de veículos em SP pode gerar o efeito cobra, aquele que causa resultado contrário e agrava o problema que tenta resolver

Patricia Lages|Do R7

Depois de hospitais, o maior foco de disseminação do coronavírus é o transporte público
Depois de hospitais, o maior foco de disseminação do coronavírus é o transporte público Depois de hospitais, o maior foco de disseminação do coronavírus é o transporte público

Na cidade de Delhi, quando a Índia era colônia britânica, houve uma infestação de cobras venenosas que preocupou as autoridades. Como tentativa de resolver o problema, o governo decidiu recompensar qualquer pessoa que matasse as víboras. Parecia uma solução plausível, afinal, não seria necessária a contratação de pessoal e nem grandes movimentações ou gastos por parte do governo.

A princípio, a decisão se mostrou eficiente com um alto número de cobras eliminadas pela própria população. Porém, diante da diminuição do número de serpentes e, portanto, da renda que trouxeram à população, muita gente começou a criar cobras para continuar recebendo a recompensa. Ao perceber a manobra, o governo britânico suspendeu o programa e a consequência foi pior do que o problema original. Desmotivada, a população soltou suas cobras e o número de víboras nas ruas se tornou ainda maior do que antes. O caso – que é real – serve para fundamentar as situações em que a tentativa de resolução de um problema, na verdade, o agrava.

Vários economistas estão classificando o novo rodízio de veículos iniciado hoje na cidade de São Paulo, por decreto do prefeito Bruno Covas, como uma medida que causará o efeito cobra. A fim de conter o avanço nos casos de contaminação pelo novo coronavírus, fica proibida a circulação de veículos em dias alternados. Os veículos com final de placas pares só poderão circular nos dias pares e os de final de placas ímpares circularão nos dias ímpares. A proibição contempla as 24 horas do dia e inclui os finais de semana.

A questão é que o impedimento de circular com o próprio veículo, dentro do qual a pessoa estaria muito mais segura, faz com que a população se veja obrigada a recorrer a táxis ou carona, o que acaba causando uma exposição maior ao vírus. Mas esse é o menor dos problemas, pois a grande maioria terá de recorrer ao transporte público e é aí que a proliferação do vírus tem muito mais chances de acontecer.

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Na manhã desta segunda-feira, primeiro dia do decreto, o resultado não poderia ter sido outro: ônibus, metrôs e trens lotados, segundo o Diário dos Transportes. Depois dos ambientes hospitalares, o maior foco de disseminação do vírus que causa a Covid-19 é o transporte público. A previsão é que, se esse rodízio rígido continuar, o aumento de casos nos próximos dez dias elevará ainda mais a curva de contaminação, pois é impossível manter uma distância segura dentro de qualquer transporte coletivo lotado.

Quando o governo britânico implantou a medida que resultou efeito contrário não havia o conhecimento do fenômeno que iria ocorrer, mas em pleno 2020, com o conceito estabelecido há décadas, qual desculpa a prefeitura de São Paulo apresentará à população depois dos resultados desastrosos que estão por vir?

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Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog www.bolsablindada.com.br. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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