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Análise: China quer punir pais pela má educação dos filhos

Projeto prevê que pais ou tutores sejam responsabilizados pelo mau comportamento de filhos pequenos e sofram punições

Patricia Lages|Patricia Lages

Peso da criação dos filhos acaba nas costas das mulheres
Peso da criação dos filhos acaba nas costas das mulheres Peso da criação dos filhos acaba nas costas das mulheres

Parlamentares chineses criaram um projeto de lei que pretende punir os pais pelas más-criações dos filhos, que vão desde falar alto em um restaurante até chorar em público ou quebrar algo em uma loja. Se a criança se comportar mal ou cometer um delito, haverá consequências para os pais ou tutores, que poderão passar por programas de reeducação familiar.

O projeto prevê também que os pais sejam obrigados a estabelecer a agenda dos filhos incluindo brincadeiras, exercícios físicos e descanso “da forma correta”, ou seja, longe da tecnologia, principalmente de jogos e redes sociais. Fico pensando em como os pais brasileiros fãs do socialismo e com uma quedinha pelo comunismo receberiam a notícia de que o Brasil adotaria a mesma política, impondo a eles punições caso seus filhos chorassem na rua.

Desde 1979, quando a China interveio severamente nas famílias com a política do filho único, deu-se início a uma disparidade de gêneros no país. Por conta de uma cultura que privilegia os homens em detrimento das mulheres, milhões de casais optaram por interromper as gestações de meninas, recorrendo a abortos forçados, preferindo dar à luz meninos, que, historicamente, têm uma vida mais fácil. Hoje, a China enfrenta um enorme desequilíbrio, com um excedente de cerca de 35 milhões de homens em relação ao número de mulheres.

Em 2016, o governo suspendeu a proibição, permitindo que as famílias tivessem dois filhos, mas mesmo assim as chinesas continuam preferindo não ser mães ou ter apenas um filho. Para as mulheres é muito mais difícil conseguir um emprego com um bom salário, por isso elas têm de se empenhar muito mais, ficando sem tempo para educar uma criança. Na China, a educação dos filhos é quase que exclusivamente uma tarefa da mãe, enquanto a maioria dos pais não chega nem sequer a tirar os 14 dias de licença-paternidade a que tem direito.

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Mais mulheres do que homens têm de enfrentar as longas jornadas de trabalho conhecidas como 996: das 9h da manhã às 9h da noite, seis dias por semana. As mulheres também recebem remuneração normalmente mais baixa, e cerca de 40% dos trabalhadores têm de sobreviver com uma remuneração irrisória: mil iuanes, aproximadamente R$ 740 por mês. Em outras palavras, 600 milhões de chineses (quase o triplo da população brasileira) não usufruem da riqueza do país, recebendo menos que o equivalente a um salário mínimo brasileiro por mês para uma carga horária de trabalho de 72 horas semanais.

Considerando-se a cultura e o histórico da China, tudo indica que, se a lei for aprovada, quem arcará com a má educação dos filhos (ainda que seja apenas falar alto publicamente) serão as mães, que já enfrentam uma série de dificuldades devido à disparidade de tratamento que recebem em relação aos homens. Mas, aparentemente, para as feministas está tudo bem.

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