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Análise: Celular de Neymar e o analfabetismo financeiro

Jogador exibe celular em ouro de R$ 21 mil e fãs consideram ostentação, mas isso só reitera o analfabetismo financeiro no Brasil

Patricia Lages|Patricia Lages

Neymar exibe o celular de ouro
Neymar exibe o celular de ouro Neymar exibe o celular de ouro

Segundo os resultados mais recentes do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, dois de cada três alunos brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico em matemática. O Brasil tem se mantido – há vários anos – entre os últimos 10 colocados dos 80 países que participam do ranking de educação mais importante do mundo.

De acordo com o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), a classificação “abaixo do básico” significa que os alunos “demonstram domínio insuficiente dos conteúdos, das competências e das habilidades desejáveis para o ano/série escolar em que se encontram”. O baixo rendimento pode ser detectado desde as primeiras séries do ensino fundamental, mas apresenta piora nos anos seguintes.

Muitas vezes os alunos sabem fazer as quatro operações matemáticas, mas não sabem como empregá-las para resolver situações-problema. As coisas se complicam quando entram medidas de tempo, massa, comprimento e, mais ainda, com cálculos de juros e porcentagem.

Diante disso fica fácil entender porque o Brasil tem mais de 60 milhões de inadimplentes, ou seja, devedores que já perderam a capacidade de pagamento de seus compromissos e estão com o CPF negativado nos órgãos de proteção ao crédito. Mas a quem interessa que as pessoas aprendam se a ignorância é uma indústria altamente rentável? Quer melhor negócio do que entregar um e receber por dois? Pois é exatamente isso que acontece quando se compra qualquer coisa que seja por meio de financiamentos com “parcelinhas que cabem no bolso”, mas que vêm recheadas de juros altos.

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E o celular do Neymar só comprova a falta de conhecimento do brasileiro em relação às finanças. Vamos deixar de lado o fato de que ele não pagou nem um real sequer em seu celular de ouro de 24 quilates, avaliado em R$ 21 mil. Esse foi um presente para uma ação publicitária que muito provavelmente ainda lhe rendeu um bom cachê. Mas, ainda que ele tivesse comprado o “celular ostentação”, o que esse valor representa no orçamento de quem recebeu, só de salário em 2020, 36 milhões de libras, o equivalente a mais de R$ 276 milhões de reais?

Equivalência é algo que o brasileiro ainda não considera cada vez que coloca a mão no bolso para comprar o que acredita que “todo mundo tem”. Ostentação mesmo é um assalariado médio – que no Brasil representa um ganho de R$ 2.261 mensais – comprar um celular de R$ 4.800, colocando em um único objeto o ganho de 64 dias de trabalho.

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Considerando a equivalência pelos dias de trabalho, o celular do Neymar custaria mais de 6,4 milhões de libras, o equivalente a mais de R$ 49 milhões. Logo, quem ostenta não é o menino Ney quando exibe um celular de míseros R$ 21 mil, mas o brasileiro médio que não faz conta, não valoriza os próprios esforços e gasta o que não pode para comprar o que não precisa.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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