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Análise: Brasil enterra empreendedorismo em burocracia

País produz talentos, mas sofre com falta de apoio ao empreendedor e excesso de dificuldades para tirar projetos do papel

Patricia Lages|Do R7

No ano de 1500, o escrivão Pero Vaz de Caminha endereçou uma carta ao rei de Portugal, dom Manuel, em que descreve o país onde a frota de Pedro Álvares Cabral havia aportado. Embora haja controvérsias, alguns historiadores afirmam que, entre correspondências e anotações, Caminha tenha registrado a expressão: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”.

Mas, ainda que ele não tenha sido o autor da frase, sabemos que, de fato, vivemos em um país de terras férteis. Porém, não podemos afirmar o mesmo sobre o empreendedorismo. Por aqui, em vez de as ideias serem plantadas e regadas como boas sementes, a falta de apoio e o excesso de burocracia têm matado e enterrado iniciativas de empreendedores brasileiros que tinham tudo para dar certo. 

Para ter certeza disso, não precisamos regressar ao século 16, pois uma pequena viagem de menos de 50 anos já é suficiente. Vamos voltar a 1974, ano em que várias das maiores empresas do mundo nos dias de hoje nem sequer existiam.

A Microsoft foi fundada em 1975, a Apple em 1976 e a Amazon em 1994, na mesma época do lançamento do Plano Real no Brasil. Elon Musk, o homem mais rico do mundo, tinha apenas 3 anos de idade e Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, nasceria dez anos depois.

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Burocracia faz do Brasil um cemitério de ideias inovadoras
Burocracia faz do Brasil um cemitério de ideias inovadoras Burocracia faz do Brasil um cemitério de ideias inovadoras

Nesse mesmo ano, Silvio Santos apresentava o programa de auditório de maior audiência do país e, entre as atrações, recebeu João Amaral Gurgel, engenheiro, mecânico, eletricista e empreendedor. Na ocasião, Gurgel apresentou um automóvel fabricado 100% no Brasil, idealizado por ele mesmo, e que recebeu o nome de Itaipu. Esse não era um veículo qualquer, mas, sim, o primeiro carro elétrico da América Latina.

Mas, como o Brasil é um cemitério de ideias inovadoras, o projeto não seguiu adiante. Segundo Fernando Gurgel, um dos filhos e herdeiro dos negócios, a falência da empresa é resultado de uma “traição” dos governadores do Ceará e de São Paulo, que, à época, eram Ciro Gomes e Luiz Antônio Fleury Filho. Na ocasião, o presidenciável Ciro Gomes disse que o grupo não pagou um empréstimo que fazia parte do acordo e Fleury Filho não se manifestou.

Nossos políticos preferem quebrar acordos e fechar as portas para centenas (ou talvez milhares) de empregos, do que melhorar o ambiente de negócios, dando mais oportunidades a ideias inovadoras que poderiam mudar não só a vida das pessoas, como também mostrar ao mundo o quanto o empreendedor brasileiro é criativo e resiliente. Assim como a Gurgel perdeu, milhares de empreendedores vêm perdendo todos os dias e, junto com eles, o país todo.

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