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Análise: Autoengano, a pior de todas as armadilhas

Assim como muitas pessoas fabricam os próprios problemas, também conhecem as soluções, mas preferem ignorá-las

Patricia Lages|Patricia Lages, do R7

Autoengano
Autoengano Autoengano

É comum receber em minhas redes sociais pedidos de ajuda sobre questões financeiras. Como os problemas relacionados a dinheiro são a segunda maior causa de divórcio no mundo (perdendo apenas para a traição), também é comum ler relatos de situações que estão causando atrito entre os casais.

Uma das ocorrências frequentes é a da namorada que engravidou (muitas vezes de alguém com quem nem tinha um compromisso sério) e que, por força das circunstâncias, resolveu “morar junto” com o pai da criança. Em alguns casos, a moradia não passa de um quarto cedido pelos pais ou sogros, ou se resume a uma casa improvisada devido à pressa em “resolver o problema”.

É claro que, por ser algo tão comum nos nossos dias, a sociedade acabou assumindo essa dinâmica como normal, porém as palavras “comum” e “normal” são muito diferentes. A questão é que, ao analisar um pouco mais, na maioria dos casos temos: uma mulher que não queria ser mãe se “juntando” a um homem que não queria ser pai — pelo menos, não daquela forma atabalhoada — e indo morar em um local inapropriado para ambos e, mais ainda, para uma criança. Não é, nem de longe, a melhor forma de começar um relacionamento.

A falta de dinheiro é uma das primeiras coisas que saltam aos olhos, pois tudo o que orbita esse novo mundo requer investimento financeiro. Contas de casa, roupas para cada fase da gestação, pré-natal, medicamentos, vitaminas e todos os demais gastos que envolvem a chegada de um bebê. As conversas se tornam monotemáticas e, em questão de poucos meses, o diálogo — que em muitos casos jamais havia incluído o dinheiro — dá lugar a brigas frequentes que desgastam uma relação que já não começou bem.

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Usando os casos que atendo como base estatística, posso afirmar que mais da metade dos homens acaba negligenciando as contas, deixando a maior parte delas (ou todas) a cargo de suas companheiras. Esse levantamento está bem próximo aos dados oficiais do Ipea, segundo os quais, em 2018, 45% dos lares eram sustentados por mulheres que vivem com seus companheiros, sendo que 31% delas têm filhos e 14% não. Se juntarmos essas mães que vivem em casal aos 32% de mulheres solteiras com filhos, ainda de acordo com o Ipea, chegaremos a uma porcentagem assustadora: 63% das mulheres que têm filhos são arrimos de família.

O autoengano tem sido o grande causador dessa triste realidade. Sim, triste. Afinal de contas, é um engano romantizar a situação dizendo que as mulheres tiram tudo isso de letra e que podem ser excelentes profissionais, supermães e donas de casa exemplares, além de manterem o corpo em forma, serem jovens para sempre e nunca precisarem de ninguém. A verdade é que não dá para trabalhar como se não tivesse filhos ou cuidar de filhos como se não trabalhasse fora. A conta simplesmente não fecha. E é triste.

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Grande parte dessas mulheres viu, desde o princípio do relacionamento, que não se tratava de algo promissor. Detectaram que aquele era um homem que mais parecia um menino, irresponsável com dinheiro, que não assumia compromisso e não levava nada a sério. Elas viram, mas preferiram não ver.

Então, tudo isso é culpa das próprias mulheres? Não creio. Na minha visão, elas se tornam vítimas dos próprios sentimentos, do autoengano e da pressão que a sociedade impõe o tempo todo para que a mulher seja um ser sobrenatural. Essa armadilha já vem sendo preparada há décadas e, ao que parece, as próximas gerações continuarão caindo nela. Infelizmente.

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