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Análise: 2020, o ano em que o futuro foi cancelado

Artigo da revista inglesa The Economist afirma que 2020 é o ano em que o futuro foi cancelado e que viver o presente nunca foi tão superestimado

Patricia Lages|Patrícia Lages, do R7

Pandemia mudou a percepção sobre o futuro
Pandemia mudou a percepção sobre o futuro Pandemia mudou a percepção sobre o futuro

Escrito pela jornalista Catherine Nixey, o artigo “Mindfulness is useless in a pandemic” (Atenção plena é inútil na pandemia, em tradução livre) mostra como, aos poucos, fomos levados a aceitar situações que até pouco tempo atrás pareceriam apenas roteiro de filme.

“Eu estava ansiosa pela refeição por semanas. Já sabia o que ia comer: a entrada de crostini de alecrim, depois o cordeiro com chips de abobrinha. Ou talvez o bacalhau. Eu planejava chegar cedo e sentar na janela do balcão de mármore frio e assistir Londres passar. Na agitação quente do restaurante, a condensação embaçava o vidro. Como um mimo, pedia um copo de vinho branco para mim enquanto esperava pelo meu amigo.."

"Não será surpresa para você saber que a refeição nunca aconteceu. Os casos de coronavírus começaram a aumentar exponencialmente e comer fora parecia menos uma indulgência e mais uma loucura. Então, tornou-se ilegal comer juntos. Logo se tornou ilegal até comer sozinho em um restaurante. Então tudo se fechou.”

Na maior parte das cidades brasileiras, além de termos sido privados da liberdade de fazer coisas simples, como uma refeição fora de casa, tivemos de conviver com a incerteza de quando poderíamos voltar a fazê-lo. E, mesmo depois do relaxamento da quarentena, com a liberação de circularmos um pouco mais, muitos continuam presos. Não pela lei, mas pelo próprio medo.

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Com os rumores de uma segunda onda, novamente nos vemos diante de um número enorme de incertezas sobre o futuro. Não sabemos nem mesmo se poderemos receber familiares em casa para dar adeus a esse ano tão desafiador. Para além do pânico em relação ao vírus em si, está o medo de ser denunciado pelos vizinhos ou, quem sabe, pelos próprios parentes que acreditam que aproximar-se de outras pessoas é acercar-se da morte.

Como planejar 2021 sem saber se os filhos irão para a escola, se o trabalho será realizado em casa ou na empresa e, até mesmo, sem ter ideia se, pelo menos, haverá trabalho. E quanto ao sentido da vida? Vale suspender a vida para nos mantermos vivos? Em seu artigo, Nixey faz um balanço sobre o preço dessa não-vida.

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“O custo desses almoços perdidos foi calculado muitas vezes: os trens não tomados, os táxis não sinalizados, as sobremesas não comidas, os garçons que não receberam gorjeta. Depois, há o preço emocional também. Os espíritos estão enfraquecendo, os solitários estão ficando mais solitários, o mundo está murchando. Covid já alterou muito a forma como vivemos. Também alterou outra coisa - o próprio tempo.”

Diante disso, uma coisa é certa: 2021 exigirá de nós ainda mais do que 2020. Estejamos prontos para, dessa vez, não sermos pegos de surpresa.

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