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Originalmente, ele não é um estilista. Abbé Tossa veio ao Brasil para estudar, está terminando o curso de Ciências Biológicas na Unifesp, mas bastou começou a circular com roupas africanas para sua história por aqui começar a mudar. Natural do Benin, ele cresceu usando modelos típicos, com estamparia vibrante. Sua família lida com tecidos africanos há 40 anos.
— Trouxe algumas peças para uso próprio e todo mundo começou a perguntar onde poderia comprar, de onde era. Pensei: vou vender essas roupas um dia.
Há um ano, Abbé Tossa lançou sua marca, Kuavi, e criou um perfil no Instagram. Os looks passaram a ser usados por famosos, como o cantor Seu Jorge e os atores Ailton Graça e Adriana Lessa, e por um público interessado no empoderamento da matriz africana. E essa trajetória está apenas começando
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Por ocasião da visita do rei do Benin, ao Fórum Social Mundial, em março de 2018, Abbé Tossa serviu de intérprete para a autoridade, o que ajudou a amplificar sua popularidade
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Mas o que tem feito mesmo a fama do jovem estudante de 28 anos é seu trabalho com tecidos africanos. Abbé Tossa explica que cada estampa tem um significado.
— Há séculos, as mulheres da África ocidental usavam as estampas para passar mensagens umas às outras. São mensagens codificadas e minha mãe sabe muito sobre essas mensagens, conhece os significados. Estou montando uma palestra com esse tema
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Os desenhos, por trazerem mensagens, precisam ser preservados. Os cortes das peças são feitos para garantir um alinhamento perfeito da estampa
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A primeira iniciativa empreendedora do intercambista Abbé Tossa foi a criação de um curso de Yorùbá, uma das muitas línguas africanas.
— Eu achei que fosse ter cinco alunos, mas já na primeira turma apareceram 25 interessados.
Hoje, no espaço da Kuavi, são ministradas também aulas de Francês e Inglês. E foi para os alunos que Abbé Tossa começou a vender suas primeiras peças
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Abbé Tossa conta que sempre buscou oportunidades e é dos que acreditam que "querer é poder".
— Minha cabeça não para. Nunca penso em dinheiro, acredito que ele é consequência do trabalho. E quem faz um bom trabalho não precisa fazer barulho
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O criador revela que sempre flertou com a moda e ao começar sua marca resolveu fazer uma homenagem à mãe, que o sempre o vestiu com trajes típicos e tecidos estampados.
— Kuavi é o nome da minha mãe e da minha marca
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Abbé Tossa conta que cria os modelos a partir da observação de pessoas na rua
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Ele tem três costureiros que transformam suas ideias em roupas, um especializado em moda masculina, outro em moda infantil e um em moda feminina
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A fama da marca veio pelas redes sociais. Abbé Tossa criou uma conta no Instagram e começou a compartilhar fotos dos looks. A procura foi crescendo, até chegar às celebridades
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Abbé Tossa defende que qualquer pessoa pode usar suas roupas. Para ele, não há problema, por exemplo, de brancos usarem turbantes.
— Mas é preciso que saibam que se trata de um símbolo de luta, de força e de resistência. E isso não são só os brancos que tem de saber, os negros também. No Brasil, há muito negro que não sabe que é negro
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A escolha pelo Brasil para estudar, conta ele, foi por afinidade.
— Tinha oportunidade de ir para o Canadá, mas lá é frio. Eu gosto de futebol, e meus ancestrais ajudaram a construir este país, querendo ou não. Foram forçados, mas eu não me sinto estrangeiro aqui
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O principal objetivo de Abbé Tossa com sua marca é passar uma imagem positiva da África.
— As pessoas só relacionam a África à guerras, pobreza, miséria, e não é só isso.
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Abbé Tossa ressalta que a África é um continente, com 54 países, e há muitas culturas diferentes de cada um os povos
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A moda africana que o estilista cria mantém as origens, mas também há adaptações para o gosto do público local.
— Os modelos se parecem, com camisas, batas, mas os brasileiros gostam de roupas mais soltas, com decotes grandes e com tecidos lisos misturados às estampas
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As roupas na Kuavi são feitas sob medida
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Mas também há peças para pronta-entrega, comercializadas na sala-ateliê-loja mantida por Abbé Tossa em um prédio na Ana Rosa, em São Paulo
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Seus sonhos não param por aqui.
— Quero ver minha marca em todas as lojas, permitir o acesso do grande público, e revolucionar a moda africana
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Entre os projetos desse jovem criador que divide seu tempo entre as aulas de Yorúbá, o TCC do curso de Ciências Biológicas e sua marca de moda, está a desejo de criar grupos para levar as pessoas para o Benin.
— Tenho vontade levar 15, 20 pessoas para mostrar meu país. Há uma ligação culturas forte do Benin com o Brasil
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Abbé Tossa se sente realizado no Brasil, mas teme pelo futuro de outros imigrantes africanos, muitos refugiados, que estão fugindo de guerras e precisam de apoio.
— Aqui é uma terra produtiva, tudo que você planta, você colhe, mas falta um olhar do governo para os refugiados
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