Eu já achava a vida real complicada e exigente. Mas aí vieram as redes sociais. E essas não param de exigir de nós, cada vez mais, a cada nova plataforma, uma capacidade mental e um equilíbrio emocional para o qual, pessoalmente, não estou mais preparado. Quero a vida analógica de volta.
Explico por quê: não dou conta da lógica que leva, de um dia para o outro, uma pessoa no auge da fama para os porões do cancelamento mais cruel (às vezes, justo) e, momentos depois, milhões de pessoas mudarem de assunto e reerguerem aquele ser humano destruído de novo ao pódio, com milhões de seguidores e fãs.
Minha cabeça bugou quando deparei com a história de uma influencer chamada Karen Bachini, especializada, pelo que entendi, em maquiagem e produtos de beleza. Ela levou uma bela cacetada pública de uma ex-funcionária, que a processou por abusos trabalhistas (e ganhou na Justiça).
A ex-colaboradora, claro, contou a história toda em um vídeo (de uma hora!) que bombou na internet. A ex-patroa famosa respondeu com outro vídeo interminável, admitiu que perdeu a causa, pagou todos os direitos devidos e, diante da repercussão, caiu em desgraça. Isso tudo foi no ano passado. Agorinha, portanto.
Mas, incansável, Karen não se abateu com as denúncias e o cancelamento sofrido. E deu uma virada de mesa fazendo exatamente o que sofreu: mandando um baita cancelamento para cima de uma igualmente influenciadora e youtuber chamada Virginia Fonseca — que lançou uma base para rosto ao custo de R$ 200, propagandeando que era o mais eficiente (e caro) dos produtos nacionais no segmento.
Pobre Virginia... A sua coleguinha fez um vídeo simplesmente destruindo, acabando, soterrando a tal base. Não tenho capacidade de julgar a qualidade da maquiagem. Mas sei que o estrago foi grande. Juntamente com o cancelamento implacável da criadora do tal cosmético, uma multidão, sempre aos milhões de pessoas, viralizou a outrora destroçada Karen.
É nessa gangorra de maldades, inconfidências, celebrações e destruição de reputações que todos nós nos metemos? Para deleite da maledicência, do deboche e do sarcasmo que servem às mais incríveis ferramentas de comunicação que o cérebro humano foi capaz de criar?
Para mim, ainda mais chocante nessa história toda foi, sem querer, a descoberta de que existe uma base importada que custa R$ 1.200. Este mundo está perdido.