"Não é correto um animal morrer para eu me alimentar". Esse costuma ser o despertar de consciência em quem decide optar por uma dieta vegetariana estrita, a que é adotada pelos veganos. A partir desse impulso, o caminho para abandonar o consumo de qualquer item que passe pelo sacrifício animal, muitas vezes, é natural.
Neste Dia Mundial do Veganismo, comemorado em 1º de novembro em todo mundo, o R7 traz alguns depoimentos reveladores de gente que adotou esse modo de vida. A data surgiu em 1977, a partir de uma iniciativa da Sociedade Vegetariana Norte Americana e pretende celebrar a consciência vegana.
Ser vegano não se resume à questão alimentar. É um movimento, um posicionamento ético e politico que tem como objetivo a abolição, a libertação animal. Por esse motivo, veganos não consumem nem usam quaisquer produtos (sejam roupas, alimentos, itens de higiene e beleza, etc.) com insumos de origem animal ou fabricados por empresas que fazem testes em animais ou patrocinam eventos que exploram animais. É um modo de vida sem contato com produtos derivados de animais.
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Participante do grupo VegAjuda, do Facebook, Michele Brum Lopes teve uma árdua caminhada até o veganismo. Nascida e criada em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, ela não tinha infomações sobre o movimento, e enfrentou muita resistência na família. "Meus pais não concordavam e me pressionaram bastante. Minha mãe explicava que animais precisavam morrer porque os humanos precisavam comer. Que sem carne os humanos não sobreviveriam", lembra.
Trajetória solitária
Quando tinha uns cinco anos , Michele viu uma ovelha ser morta na chácara dos pais. "A faça cortando seu corpo, ela gritando de dor, o sangue escorrendo. Me revoltei, sofri, descobri que ninguém no mundo me compreendia e compartilhava dos mesmos sentimentos que eu. Muitos sentiram pena da ovelha, mas comeram seu corpo depois. Eu não. Não almocei. Estava devastada."
Só aos 12 anos, uma prima mais velha contou que conhecia pessoas Hare Krishna que não comiam carne. "Então existiam humanos vivos há vários anos sem se alimentar de carne? Parei de comer no mesmo dia. A única coisa sem carne que costuma ter nas refeições na minha casa era arroz branco. Então foi o que almocei e jantei por quase um ano." Apenas depois de muitos anos, ao ir mora fora do Brasil, Michele adotou de vez a vida vegana, abandonando não só leite, derivados, ovos, como consumindo produtos que não tivessem origem animal.
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Hoje, todos os dias ela usa parte de seu tempo para ajudar pessoas que estão no início do processo. "Tiro dúvidas, conscientizo, dou suporte emocional. Sei como é ruim passar pela jornada sozinho, apesar de hoje as coisas estarem extremante fáceis pelo acesso à internet e incontáveis produtos, muitas vezes ouvir de alguém um simples "eu te entendo" é muito importante."
Maíra Lewtchuk teve um grande incentivador dentro de casa: seu filho. "Com apenas dois anos de idade ele se recusava a comer qualquer tipo de carne", conta. Entre tentativas e fracassos, Maíra finalmente conseguiu adotar uma dieta restrita e deixar de consumir produtos de origem animal. "O início no veganismo não foi difícil, o que foi mais difícil foi encarrar que passei tanto tempo dando desculpas para mim mesma para não fazer o certo. Fico muito feliz em ver o crescimento do movimento", admite.
Da comida ao ativismo
Como vários veganos, Camila Kila levou alguns anos para tomar consciência plena do processo e hoje é ativista da causa. "Parei de comer carne há 14 anos, por entender que não era correto um animal morrer para eu me alimentar, ainda mais não sendo algo necessário. Mas, por muito tempo, fui ovolacto, em função do comodismo, por achar que era mais fácil, principalmente na questão social, já que não conhecia veganos nem vegetarianos", recorda.
Há um ano, Camila percebeu que era totalmente possível viver sem consumir qualquer produto de origem animal ou de empresas que testam ou patrocinam exploração. "Posso dizer que foi a melhor decisão que tomei! Só me arrependo de não ter começado antes… O veganismo me trouxe, além da consciência tranquila por viver de acordo com o que acredito ser correto, uma causa pela qual lutar. Desde que me tornei vegana passei a ser também ativista, virei organizadora regional da Anonymous for the Voiceless (AV), participo da The Save Movement e de outros grupos que promovem ações e discussões sobre o tema."
Para Francieli Monteiro, a decisão de praticar o veganismo se deu a partir da concepção de igualdade e empatia para com todas as demais vidas sencientes. "No mais, nada é difícil no dia a dia quando o que está em questão é a consciência tranquila de que tu não fazes mais parte desse sistema opressor. Nenhum percalço, como não ter opções veganas 'em qualquer esquina', tem a menor importância diante do todo. Ser vegano é ser empático, é entender que somos apenas parte desse mundo e não donos dele.”