Muita gente sonha em fazer uma tatuagem, mas basta pensar que o procedimento pode doer que desiste da ideia. Para quem morre de medo das agulhas e da dor, existe uma técnica que vem se popularizando: a hipnotattoo. Conhecida como um Estado Alterado de Consciência (EAC), a hipnose é um método alternativo para o tratamento de transtornos mentais como depressão, síndrome do pânico e fobias. Entre os benefícios da hipnoterapia está o de amenizar dores, como as de tatuagens.
O o psicólogo, especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP e hipnoterapeuta, Valdecy Carneiro, fundador da Sociedade Interamericana de Hipnose (SIAH), explica que a hipnotatto é indicada para aquelas pessoas que sempre quiseram fazer uma tatuagem, mas não tinham coragem. Durante o procedimento, a pessoa entra em transe hipnótico e não sente as dores comuns do procedimento. Confira, a seguir, a entrevista com o hipnoterapeuta e tire as principais dúvidas sobre essa técnica.
R7 — Como a técnica funciona? O hipnotizador vai com a pessoa fazer a tatuagem?
Valdecy Carneiro — Há duas maneiras de se fazer isso. A primeira é o hipnotizador ir até o espaço do tatuador e fazer a hipnose no local. A segunda maneira é com o processo de condicionamento hipnótico sendo realizado na clínica ou espaço do hipnotizador e deixado um signo-sinal (um código), que seria utilizado pelo tatuador para colocar a pessoa novamente em transe, com o processo de anestesia (eliminação da sensibilidade).
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R7 — Quanto tempo leva a “preparação” para a tattoo?
Valdecy Carneiro — O tempo de preparação é variável, conforme a sensibilidade de cada pessoa. Na grande maioria dos casos é possível conseguir o condicionamento hipnótico em apenas uma sessão de até 90 minutos.
R7 — O hipnotizador tem de acompanhar o processo completo?
Valdecy Carneiro — Não é necessário que o hipnotizador acompanhe o processo completo (embora seja desejável). Mas é altamente recomendável que o hipnotizador converse com o tatuador para passar instruções claras e precisas. Em alguns casos, o tatuador é o hipnotizador.
R7 — De que forma a hipnose reduz a dor?
Valdecy Carneiro — A hipnose é um dos mais eficazes meios de se atuar na psiconeuroimunoendocrinologia, ou seja, no processo hipnótico há um rebaixamento do fator crítico, desativando algumas áreas do cérebro, o que faz com o indivíduo fique mais sensível ou sugestionável às instruções de quem detém o comando hipnótico. É consenso entre os estudiosos na área de saúde que a dor é sentida por áreas específicas no cérebro. A redução ou eliminação da percepção do estímulo doloroso (álgico) acontece da mesma maneira quando desviamos a nossa atenção de uma coisa para outra, como no processo auditivo, por exemplo, quando alguém está falando muito e você não ouve uma única palavra, ou porque está focado na fala de outra pessoa, ou focado em uma música ou mesmo em outros estímulos cinestésicos ou visuais.
R7 — Qualquer pessoa consegue chegar a esse resultado (não sentir dor se fizer a hipnose)?
Valdecy Carneiro — Sim. Há diversos profissionais que utilizam a técnica, inclusive para a execução de procedimentos cirúrgicos, tanto de pequeno quanto de grande porte, como cirurgias buco-maxilo-facial, colocação de cateteres para hemodiálise, neurocirurgias (cranianas), etc.
R7 — Há quanto tempo a hipnose vem sendo usada com essa finalidade?
Valdecy Carneiro — Há casos clássicos do uso de anestesia hipnótica, como os do médico escocês James Esdaile e do médico inglês John Elliotson, que realizavam cirurgias de grande porte com o uso da hipnose, inclusive amputações de braços e pernas, ambos no século 19.
R7 — É um procedimento caro?
Valdecy Carneiro — O processo hipnótico não tem como ser mensurado como caro ou barato, pois é subjetivo. Muitas vezes aquilo que a pessoa quer conseguir ou realizar só se torna possível justamente devido à intervenção de um hábil hipnólogo ou hipnoterapeuta, o que poderia significar que o processo em si pela alta possibilidade de se conseguir êxito, acaba se tornando barato.