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Síndromes ‘fake’: pacientes forjam sintomas de doenças e transtornos mentais

Para fugir de responsabilidades, chamar atenção ou obter tratamento diferenciado, pessoas fabricam doenças e simulam sintomas

Patricia Lages|Do R7

Dee Dee Rose Blanchard e sua filha, Gypsy
Dee Dee Rose Blanchard e sua filha, Gypsy Dee Dee Rose Blanchard e sua filha, Gypsy

O termo síndrome de Münchhausen foi cunhado pelo médico inglês Richard Asher, em 1951, para descrever pessoas que intencionalmente forjam sintomas físicos para receber tratamento. Uma variação do transtorno é a síndrome de Münchhausen por procuração, quando uma pessoa simula doenças em um terceiro, sendo mais comum em crianças, quando um adulto — geralmente a mãe — fabrica sintomas com o objetivo de chamar atenção para si.

Um caso conhecido foi o da americana Clauddine “Dee Dee” Blanchard e sua filha, Gypsy Rose. A mãe inventou uma infinidade de doenças para a filha, desde asma e leucemia até anomalias cromossômicas. Devido aos inúmeros medicamentos que Dee Dee a fazia ingerir, Gypsy acabou adoecendo de fato. A menina, que teve a cabeça raspada pela mãe inúmeras vezes para simular tratamento de quimioterapia, chegou a perder os dentes e a viver em um estado de desordem mental constante.

Até que, em 2015, ao completar 18 anos, Gypsy percebeu a situação e decidiu dar um basta, convencendo seu então namorado a assassinar a mãe brutalmente. Ele cumpre prisão perpétua, enquanto ela deve sair em liberdade condicional em 2024.

A síndrome de Münchhausen é considerada o ápice dos chamados transtornos factícios, que são basicamente a mesma condição, mas de uma forma moderada. Se observarmos atentamente, algo semelhante parece estar crescendo nos dias de hoje, mas com a simulação de transtornos mentais, com o objetivo de justificar comportamentos inadequados, incompetência, para escapar de responsabilidades ou simplesmente chamar atenção.

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São pessoas saudáveis, mas que afirmam, por exemplo, ter compulsão por compras — para justificar sua irresponsabilidade financeira — ou sofrer de TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) ou de síndrome do pensamento acelerado — por pura falta de paciência ou mesmo preguiça de pensar ou aprender — e forjam tantas outras condições mentais como desculpas para obterem algum tipo de tratamento diferenciado.

Porém, ao acreditar que diagnósticos fictícios lhes trarão benefícios, como mais atenção ou menos cobranças, essas pessoas perdem oportunidades reais de aprender, crescer e ter uma vida bem-sucedida, achando que a estratégia funcionará para sempre. São pessoas que, semelhantemente ao fim brutal de Dee Dee Blanchard, estão assassinando seu próprio futuro e, talvez, incentivando outras a fazer o mesmo.

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Ao depararmos com o crescimento assustador de doenças mentais, síndromes e transtornos, não há dúvida de que nossa sociedade está adoecida. E, além de cuidar de quem realmente está doente, os profissionais de saúde têm de lidar com pacientes “fake”, que se enchem de transtornos inexistentes na tentativa de preencher uma vida vazia.

Esta análise é apenas uma pincelada superficial sobre um assunto que precisa ser profundamente investigado, discutido e propagado, para que o modismo dos falsos sintomas não se torne uma epidemia real.

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