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Análise: viver nas ruas não é o problema, mas apenas a consequência

Alcoolismo, uso de drogas, falta de vínculo familiar e desemprego estão entre as principais causas de se viver nas ruas

Patricia Lages|Do R7

Com o desemprego e, sem renda, muitos se viram sem condições de arcar com seus aluguéis
Com o desemprego e, sem renda, muitos se viram sem condições de arcar com seus aluguéis Com o desemprego e, sem renda, muitos se viram sem condições de arcar com seus aluguéis

Segundo estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de 221 mil pessoas viviam nas ruas em todo o país, em março de 2020. Com as restrições da pandemia, estimativas apontam um aumento significativo desse número, podendo chegar aos 50%. Para o pesquisador do Núcleo de Pesquisa da População de Rua da Fiocruz, Marcelo Machado, a pandemia não só aumentou, mas também mudou o perfil de quem está atualmente nas ruas.

A ampliação das restrições, incluindo a proibição ao trabalho – mesmo com a observância dos protocolos de segurança – elevaram as taxas de desemprego e, sem renda alguma, muitos se viram sem condições de arcar com seus aluguéis. Infelizmente, a política do “fique em casa” obrigou famílias inteiras a deixarem suas casas ficando muito mais expostas, não só ao vírus, mas a todos os demais perigos que as ruas oferecem.

Além do desemprego, as principais causas que levam as pessoas a viverem nas ruas são o alcoolismo, a dependência química, a perda de um ente querido e a falta de vínculo familiar. São problemas de ordem psicológica e psiquiátrica, coisa que uma vaga em um albergue ou até mesmo a entrega de uma casa não resolvem. O mesmo acontece em relação à pobreza, pois de nada adianta que haja oferta de moradia para quem não tem condições de arcar com as despesas.

Viver nas ruas não é o problema em si, mas apenas a consequência de outros problemas que geralmente os governos ignoram. Oferecer tratamentos longos e caros – e sem garantia de resultado – não é tão atrativo para os políticos quanto divulgar a ampliação de vagas em albergues ou vociferar pelas ruas que alguém tem de colocar um teto sobre as cabeças de quem não tem.

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Enquanto os governos ignoram que é preciso tratar as pessoas, esse trabalho acaba ficando por conta de voluntários e principalmente de ações coordenadas por igrejas, como é o caso dos Anjos da Madrugada da Igreja Universal do Reino de Deus. O programa possui mais de mil postos de atendimento espalhados em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal, que oferecem comida, corte de cabelo, banho e roupa limpa. Em apenas uma noite é possível atender cerca de 25 mil pessoas.

São 27 mil voluntários que distribuem periodicamente 30 mil refeições e cerca de 3 mil kits de higiene pessoal, além de cortes de cabelo e distribuição de roupas e calçados em bom estado arrecadados em qualquer templo da Universal. Em São Paulo, alguns pontos de atendimento também oferecem o Banho do Bem, por meio de cabines de banho masculinas e femininas com água quente e produtos de higiene, adquiridas por meio de doações. Segundo Renato Cardoso, bispo da Universal, o objetivo do Banho do Bem é auxiliar pessoas em situação de rua a recobrarem a dignidade e poderem buscar um novo emprego para, desta forma, poderem reconstruir suas vidas. Além da assistência material, os voluntários oferecem atendimento espiritual e psicológico, focando as causas dos problemas e não apenas remediando a consequência.

Enquanto isso, além de não fazer o que lhes cabe, governos municipais e estaduais não prestam nenhuma ajuda a programas voluntários como este, ao contrário, há localidades que impõem regras que só atrapalham e prejudicam o trabalho. É preciso que a sociedade abra os olhos e comece a separar aqueles que divulgam ajudas inexistentes ou ineficazes daqueles que de fato ajudam sem se preocupar em divulgar.

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