Se você é uma pessoa paciente e cujo estômago é forte o suficiente para aguentar muito cinismo, mentiras deslavadas e ideias fantasiosas, recomendo a leitura do pré-programa de governo de Lula. Mas vale o alerta: quem tirou notas acima de 5 em interpretação de texto e se baseia em fatos, em vez de narrativas, mesmo nutrindo alguma simpatia pelo ex-presidente não será capaz de votar 13 em outubro próximo. E, talvez, nunca mais.
A ideia central do documento é de uma desfaçatez ímpar, pois se compromete a “reconstruir o país”, como se não tivessem sido eles próprios que causaram o caos em seus 13 anos no poder. Logo no início, o texto culpa o atual governo pela “volta do desemprego”, como se os índices de hoje fossem maiores do que os da era PT. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas ocupadas atualmente passa de 96,5 milhões, o maior da série histórica, iniciada em 2012.
O documento também fala sobre um suposto “processo de destruição” que estaria “dilapidando o patrimônio natural” do país. Mas o que ficou de fora é o fato de que o desmatamento na Amazônia foi maior nos governos FHC e Lula.
A incoerência petista é tão grande que o próprio site do partido reproduziu, em abril, o índice de desmatamento anual médio do governo Jair Bolsonaro (2019-2021), divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): 11,4 mil quilômetros quadrados. Essa taxa é menor do que a dos governos Fernando Henrique Cardoso (19 mil km²) e Lula (15,6 mil km²). E, para piorar, o PT ainda tem o cinismo de afirmar em seu site que “o combate ao desmatamento no governo Lula foi um legado do partido”.
O programa segue em seu devaneio socialista de colocar o Poder Público como o “grande estimulador dos acordos e parcerias multissetoriais necessários para a reconstrução do nosso país”. Em outras palavras: mais poder ao Estado para regulamentar tudo o que fazemos debaixo do sol. Mais burocracia, mais regulações, mais entraves, mais retrocesso.
Só para citar mais um tópico do desvario petista, as ideias para a condução da economia vão na contramão de toda a lógica econômica, começando pela extinção do teto de gastos e da responsabilidade fiscal para que a farra com o dinheiro do contribuinte possa voltar a correr solta. Apesar dos pesares, a leitura das 18 páginas repletas de disparates vale a pena por um único motivo: que todos tenham em mente o que jamais se deve fazer quando o assunto é governar um país.