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Análise: Nem todas as vidas negras importam

Quem lê só títulos das matérias já achará motivo para destilar o ódio, mas a verdade é que nem todas vidas negras importam. Nem aos próprios negros 

Patricia Lages|Do R7

Os protestos que culminaram em uma onda de terrorismo nos Estados Unidos – e em algumas partes do mundo – com direito a quebradeira, invasões, saques e assassinatos, pregam a frase de efeito “Black lives matter”, ou seja, todas as vidas negras importam. Mas a pergunta é: será que são todas mesmo?

O estopim disso tudo foi o trágico e absurdo assassinato de George Floyd, de 46 anos, asfixiado pelo policial Derek Chauvin, em Minneapolis. Chauvin está preso com outros três policiais que nada fizeram para impedir a brutalidade que se vê claramente no vídeo que correu o mundo. Aliás, não fossem os vídeos amadores que circulam pela internet, provavelmente não saberíamos a verdade desse, bem como de vários outros casos que acontecem todos os dias ao redor do mundo.

Uma das coisas que me chama atenção nesse caso é que, mais uma vez, a hipocrisia da sociedade vem à tona. A todo momento vemos declarações de que somos todos iguais, porém, não é isso que se vê na prática, a começar pela forma como a notícia correu o mundo. O caso não foi tratado como um homem morto estupidamente por um policial, mas sim, um homem negro morto por um policial branco. Se todos realmente fôssemos tratados como iguais, essa distinção de cor não seria nem mesmo notada.

Cartazes em protestos raciais
Cartazes em protestos raciais Cartazes em protestos raciais

Mas para nos atermos às vidas negras – uma vez que a razão dos protestos é apenas em relação a estas – me pergunto: onde fica a importância da vida negra do ex-policial morto enquanto tentava impedir o saque a uma loja durante as manifestações?

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O capitão de polícia aposentado David Dorn, de 77 anos, levou um tiro no peito e não resistiu. Dorn foi assassinado em frente a uma loja de penhores que estava sendo saqueada em Sant Louis, no Missouri. Sua morte também foi filmada, mas as imagens não causaram tanta indignação e nem correram o mundo como as de Floyd. Em um primeiro momento pode parecer que a vida negra de Dorn não tem a mesma importância que a de Floyd, mas a questão é outra. E bem pior.

Talvez nem mesmo a vida de George Floyd tenha a importância que dizem ter. Há quem esteja emitindo opiniões para parcer politicamente correto, mas nem sequer se dignou a saber seu nome. E o que deveria ter sido um protesto pacífico – e legítimo – em memória de Floyd e em apoio à família que ele deixou, foi reduzido a uma oportunidade para aproveitadores roubarem à vontade e, mais uma vez, como capital político para fortalecer a guerra esquerda X direita e negros X brancos. Enquanto pessoas comuns guerreiam umas contra as outras querendo impor suas narrativas, deixam de notar que trata-se de mais um acontecimento onde poucos lucram e a maioria perde.

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O caso serviu até como estratégia de marketing para inúmeras empresas que, sem nunca terem feito absolutamente nada em prol da causa, só tiveram de postar uma tela preta em suas redes sociais acompanhada de mais uma hashtag da moda. Com uma medida que não requer nenhum esforço – apenas uma boa dose de hipocrisia – ganharam centenas e até milhares de novos seguidores, admiradores e divulgadores voluntários de suas marcas sem terem de gastar nenhum centavo.

E o que dizer do estilista Marc Jacobs que não pensou duas vezes antes de capitalizar sobre o fato de ter tido uma de suas muitas lojas de luxo pichadas. Ao postar fotos das pichações, Jacobs declarou-se a favor das manifestações, mesmo com ações como aquela. É claro que ele se tornou imediatamente o designer queridinho dos manifestantes e suas outras tantas lojas passarão a ser poupadas. Super jogada de marketing!

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Porém, diferentemente dele, muitas outras lojas foram depredadas, não apenas pichadas, e até mesmo 100% destruídas na onda terrorista que diz valorizar as vidas de todos os negros. Mas, e quanto aos inúmeros empreendedores e empresários negros, que empregam pessoas negras, e que perderam seus negócios sem poderem contar com os altos seguros que as lojas de grife têm para cobrir seus prejuízos? Jacobs vai ajuda-los a se recuperar? Ou será que vai apenas usar, quer dizer, estampar uma modelo negra na próxima campanha publicitária mostrando o quanto sua grife valoriza vidas negras? Veremos.

A verdade é que, infelizmente, não são todas as vidas que importam. Quer sejam negras, brancas ou como as pessoas as classifiquem. O que parece importar é manter acesa a chama do ódio entre as pessoas e a polarização política formando uma grande cortina de fumaça que impede que se veja claramente quem ganha com tudo isso.

O “fique em casa” para salvar vidas já não importa mais, pois a nova ordem é “vá para as ruas” e mostre que vidas negras importam e que você é politicamente correto. E assim a sociedade continua repetindo a parte favorita da reza que criou de si para si mesma: “a hipocrisia nossa de cada dia pratiquemos hoje...”

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog www.bolsablindada.com.br. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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