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Análise: Geração Z, os merecedores sem méritos

Nascidos entre 1995 e 2010, Geração Z chega à idade adulta acreditando merecer tudo mesmo sem ter de fazer nada

Patricia Lages|Do R7

A geração z em ação
A geração z em ação A geração z em ação

Ansiosos, imediatistas, individualistas, depressivos. Essas são algumas das características da Geração Z, que já é considerada a mais infeliz de todos os tempos. Criados por pais que priorizaram as conquistas financeiras – muitas vezes sacrificando longas horas por dia longe dos filhos em empregos dos quais não gostavam – os “Zs” foram ensinados que nenhum esforço cabe a eles e que para ter, basta pedir. Ou, no máximo, exigir.

Uma geração que cresceu muito próxima da tecnologia, mas distante dos pais que, mesmo sem intenção, reduziram-se a meros provedores movidos por um profundo sentimento de culpa. E assim formou-se um ciclo vicioso: pais culpados por estarem ausentes, mas ficando cada vez mais distantes em busca de dinheiro para suprir a falta de presença com bens materiais. É como comer cada vez mais para se sentir feliz, mas ficar infeliz toda vez que sobe na balança. Uma conta que simplesmente não fecha.

Também chamada de “geração silenciosa”, os “Zs” passam muito tempo mergulhados no mundo virtual e alheios à vida real principalmente por uma barreira chamada fone de ouvido. Quase não há interação, pois ouvem muito pouco e só falam o que querem e quando querem. A comunicação é controlada por quem está acostumado a servir-se do que quer, no momento em que deseja por meio de alguns cliques em uma tela.

Nessa dinâmica, muitos só veem sentido em se comunicar voluntariamente com um ser humano oralmente se for para serem servidos, ou seja, quando sentem fome (e alguém tem de alimentá-los), quando têm algum problema (e alguém tem de resolver por eles) ou quando querem algo (e alguém tem de comprar o quanto antes), ainda que não tenham ideia de quanto custe ou do sacrifício necessário para adquirir.

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Nativos digitais, os “Zs” não desenvolveram o mesmo respeito de seus pais pelos mais velhos, pois os veem como crianças bobas e que nada sabem sobre aquilo que mais valorizam: a tecnologia. Como pedir conselhos a pessoas que não sabem nem chamar um táxi em um aplicativo? Para muitos, os idosos são “cringe” (vergonhosos), pois nem sequer entendem o dialeto mutante dos netos e acabam sendo motivo de chacota. O que é esperado deles é que cumpram o papel de provedores quando os próprios pais não fazem isso. De preferência, pelo maior período de tempo possível.

Porém, pelo menos para uma avó do Distrito Federal, os netos terão de aprender a se virar sozinhos. Por decisão da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF (TJDFT), a idosa que pagou pensão alimentícia para os netos por 18 anos, está desobrigada a continuar sendo a provedora de ambos, atualmente com 23 e 24 anos de idade.

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Na ação contra a avó, os netos alegaram que ela tem condições financeiras para sustentá-los e não tem problemas de saúde que demandem gastos consigo mesma. Eles justificam a necessidade de continuar recebendo a pensão alimentícia por estarem “estudando e enfrentando dificuldades para ingresso no mercado de trabalho.” É como se achassem justo terem suas vidas mansas bancadas por alguém que já não tem mais objetivo nenhum na vida e que, ainda por cima, nem sequer é doente!

Mas, independentemente do que se passa na cabeça dos netos, a decisão dos desembargadores suspende a obrigação da manutenção do pagamento, pois, segundo o relatório, a desobrigação de sustentar a si mesmo “pode incentivar o ócio do beneficiário da pensão alimentícia, de modo que o estímulo à qualificação profissional não pode ser imposto aos pais de forma eterna e desarrazoada, sobretudo à avó, cuja obrigação é subsidiária e complementar”. Ainda cabe recurso da decisão.

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Aparentemente, para muitos “Zs”, o fato de terem nascido já lhes dá direito a fazer tudo o que quiserem, no tempo que quiserem e da forma que desejarem, enquanto aqueles que lhes trouxeram ao mundo – incluindo os demais ancestrais que deram à luz seus progenitores – têm o dever de patrocinar seu estilo de vida.

Infelizmente é uma geração que vai ter de aprender, na dor, que a vida é bem diferente das redes sociais: não há filtros para deixar tudo mais bonito, não é possível cancelar a realidade e não há como deletar as contas a pagar e nem se sustentar virtualmente. Tentando poupar os filhos de pequenos sacrifícios, muitos pais os mandaram diretamente para um futuro doloroso onde terão de fazer sacrifícios muito maiores.

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