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Análise: Dia de “mostrar” que somos pais

Dizem que pais são aqueles que criam e educam e não aqueles que apenas trazem ao mundo. Quem está criando o seu filho?

Patricia Lages|Do R7

Há duas datas que trazem um movimento diferente no bairro onde moro. Aqui é bem tranquilo, uma área residencial onde se pode caminhar tranquilamente pelas ruas, ouvir os pássaros e apreciar as árvores que, nesta época do ano, estão lindas. Um lugar raro nos dias de hoje em uma cidade como São Paulo. Mas raro mesmo é o movimento que vemos por aqui logo após o Dia das Crianças e o Natal.

Quase nunca vemos crianças brincando pelas ruas, a não ser nesses dois dias. Hoje há pais ensinando os filhos a andarem na bicicleta nova, aprendendo a guiar o carrinho de controle remoto e acompanhando a estreia da filha nos patins. Todos os brinquedos que ganharam ontem estão sendo devidamente exibidos hoje, tanto nas ruas quanto nas fotos postadas nas redes sociais, assim como foi no Natal.

Crianças têm crescido sozinhas e sem atenção
Crianças têm crescido sozinhas e sem atenção Crianças têm crescido sozinhas e sem atenção

Curiosamente, passadas essas duas datas, não se veem mais os pais. O que vemos são as mesmas crianças dos brinquedos caros passeando com as babás. Aliás, as babás estão aborrecendo muitos pais, sabe por quê? Por causa da forma como seus filhos estão se comunicando. Em sua maioria, as babás têm sotaques do Nordeste e não pronunciam o português correto igual aos pais e seus filhos estão falando como elas.

“Nós chegamos em casa cansados e estressados e ainda temos que ouvir nosso filho falando tudo errado?”, dizem eles. “Que absurdo! O que as pessoas vão pensar de nós? Que trouxemos ‘essa criança’ do Ceará?” Pois é, que absurdo...

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Ultimamente tenho recebido relatos de professores, familiares e amigos que acompanham de perto o descaso de muitos pais com seus próprios filhos. Um pai “intimou” a coordenadora de uma escola particular aqui de São Paulo a “dar um jeito” de ter atividade aos domingos. “Eu me mato de trabalhar pra pagar essa escola, então ‘se vira’, porque eu preciso de um dia de paz e com essa criança ‘não rola’”. E uma mãe confessou à amiga que há “alguns aninhos” tem deixado a filha de nove anos sozinha em casa desde o meio-dia, hora que a van escolar a traz da escola, até as oito da noite, quando o pai chega. “Tem que ver que graça! Ela esquenta a água e come o macarrãozinho dela e nunca ‘aprontou’ nada. Já é uma mocinha!”, diz a mãe, que só chega em casa por volta das 22h30, depois de trabalhar o dia todo e de ter cumprido o seu papel com a sociedade em um trabalho voluntário que, segundo ela, “não larga por nada nesse mundo”. Por nada mesmo...

É muito triste imaginar o que deve passar pela cabeça de um filho que não é criado pelos pais, mas sim, por uma pessoa que é paga para isso. E mais triste ainda saber que a maioria cresce sozinha, tendo que decidir por si mesma o que fará com o seu dia, sem ter ninguém para lhe dizer o que é certo ou errado. São praticamente órfãs de pais vivos. Que o Dia das Crianças não seja apenas uma vez ao ano, mas que seja todos os dias, principalmente para quem escolheu trazê-las ao mundo. Mais amor, por favor. Mais presença e menos presente.

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Patricia Lages

É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta os quadros "Economia doméstica" no programa "Mulheres" TV Gazeta e "Economia a Dois" na Escola do Amor, Record TV. No YouTube mantém o canal "Patrícia Lages - Dicas de Economia", com vídeos todas as segundas e quartas.

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