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Análise: Ação de algoritmos das redes sociais tende a aumentar a polarização

Entrevista de Jair Bolsonaro na Globo é exemplo de que algoritmos das redes confirmam vieses e dividem cada vez mais

Patricia Lages|Do R7

Redes sociais ajudam a dividir o país
Redes sociais ajudam a dividir o país Redes sociais ajudam a dividir o país

Para manter a atenção das pessoas pelo maior tempo possível, as redes sociais se utilizam de várias ferramentas tecnológicas. Entre elas estão a tela de rolagem infinita, onde o movimento de um dedo traz o próximo conteúdo, e a reprodução automática de vídeos, sendo desnecessária qualquer ação do usuário.

Porém, a eficácia dessas ferramentas não seria a mesma caso o conteúdo apresentado não estivesse dentro das preferências de cada um. Afinal de contas, ninguém fica diante de uma tela por horas e horas vendo coisas que nada têm a ver com seus interesses ou que trazem ideias que, desconfortavelmente, contrariam as suas.

Ao mostrar apenas aquilo que as pessoas querem ver, o algoritmo confirma e reforça seus vieses e suas crenças, como se o mundo todo pensasse exatamente como elas. Essa é uma enorme contribuição para a criação de “bolhas” que, por sua vez, amplificam e fortalecem a polarização que temos visto e vivido.

E hoje, um dia após a entrevista de Jair Bolsonaro na Rede Globo, vemos justamente isso. Quem apoia o presidente acha que ele se saiu muito bem, enquanto quem não o apoia acha que ele se saiu muito mal. O curioso é que cada lado defende seu ponto de vista utilizando os mesmos trechos do programa, ou seja, cada um interpretou aquilo a que assistiu exatamente como quis. Diante disso, ouso afirmar que o debate não serviu ao propósito de angariar ou tirar votos de Jair Bolsonaro, pois quem é contra praticamente só visualizou conteúdos que reforçam seu viés, enquanto o mesmo aconteceu com quem é a favor.

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Porém, quando se trata de um telejornal com a missão de levar a verdade, é preciso ir muito além de partidarismos e polarizações. Por essa razão, não há como fazer vista grossa ao fato de que os apresentadores tinham e têm um lado muito bem definido. E não há como deixar de mencionar a relativização do “fique em casa”.

A emissora carioca transformou a frase em uma espécie de mantra, utilizando todo seu elenco e sua programação — desde a manhã até a noite —, por meses a fio, para incutir a ideia de que era preciso ficar em casa, sem jamais incluir a opção “quem puder”. Agora, porém, diante das consequências desastrosas do trancamento, das diversas afirmações da OMS se opondo ao lockdown e dos diversos levantamentos que apontam mais estragos do que benefícios, Renata Vasconcelos tenta minimizar a campanha.

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A falta de isenção é clara, e o fato de que a entrevista deu ao Jornal Nacional a maior audiência do ano — assim como o maior pico de audiência da televisão brasileira em 2022 — diz muito. Mas, obviamente, cada um interpretará os mesmos fatos conforme suas preferências.

Independentemente do resultado das eleições, quem parece estar governando os pensamentos e opiniões das pessoas são os algoritmos das redes sociais. Ao reforçar vieses sem apresentar o contraditório, as redes têm contribuído para o estabelecimento da polarização, sem que haja um debate racional e isento, fortalecendo as divisões, que, por sua vez, só nos tornam cada vez mais fracos.

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