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Após perda de emprego, mulheres empreendem no mercado da moda 

A pandemia trouxe mudanças bruscas para Mariana Ring e Camila da Silva, que enfrentaram perrengues até montar lojas online

Moda|Brenda Marques, do R7

Mariana (esquerda) e Camila perderam seus empregos e recomeçaram no mercado da moda
Mariana (esquerda) e Camila perderam seus empregos e recomeçaram no mercado da moda Mariana (esquerda) e Camila perderam seus empregos e recomeçaram no mercado da moda

Mariana Ring, de 39 anos, estava entre os 12,9 milhões de brasileiros desempregados no primeiro trimestre de 2020. Sozinha, ela era dona e cozinheira da empresa "Turma do Lanchinho", onde vendia salgados, doces e montava kits para compor a lancheira de crianças, mas com a interrupção das aulas presenciais por causa da pandemia de covid-19, ela perdeu seus clientes e parou suas atividades. 

"Sem escola, eu me vi sem renda, dependendo do meu marido, triste por não ter o que fazer e também por não ter roupas", lembra. Mariana conta que sempre se sentiu excluída do mercado da moda por precisar vestir peças acima do manequim 44.

"Na verdade, a plus size tem de comprar aquilo que sobra na loja. Você não consegue escolher. É sempre escolhida", analisa. "Você vai ao shopping e quer comprar roupa, mas não consegue. Isso é muito frustrante, você se sente horrível", desabafa.

Essa situação começou a mudar quando ela descobriu uma fábrica que produz roupas para corpos de todos os tamanhos. Então, a realidade de exclusão vivida por mulheres gordas se tranformou em semente para o novo negócio de Mariana.

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"Eu me senti na Disney, estava realizada dentro daquela fábrica e quis fazer outras mulheres se sentirem assim. Comecei a pensar em como fazer isso na pandemia", afirma.

Ateliê das Curvas: uma loja para mulheres gordas

Assim, nasceu em setembro de 2020 o "Ateliê das Curvas", uma loja virtual de roupas para mulheres gordas, que vestem entre o manequim 44 até o 58. E Mariana se tornou multitarefa: além de fundadora da empresa, ela é vendedora, curadora e social media. Como se não bastasse, ainda tem de dar conta de todo o trabalho doméstico e cuidar dos filhos, Gael e Sofia, de 6 e 2 anos, respectivamente.

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"Eu faço uma caça no mercado, analiso as peças e escolho as que eu acho mais adequadas. Comecei comprando tudo para mim e fui mostrando para pessoas próximas. Hoje, outras mulheres [que não vestem plus size] me procuram, veem uma peça e ficam interessadas, mas eu só vendo para gordas", conta.

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Mariana monta malas com 50 opções de roupas dos mais variados tipos, conforme o gosto de cada cliente e faz questão de levar pessoalmente até a casa das que moram em São Paulo, a fim de conhecê-las além do mundo virtual. Além disso, faz entrega de peças específicas, inclusive para outras partes do Brasil por meio do correio.

Exemplos de roupas vendidas no Ateliê das Curvas
Exemplos de roupas vendidas no Ateliê das Curvas Exemplos de roupas vendidas no Ateliê das Curvas

"Gosto de ter esse encontro com as clientes, para que elas saibam que eu também sou plus size e também gosto de ver quem está comprando porque quando tem algo que combina com a pessoa, eu já aviso", explica.

Ela não tem dias programados para distribuir as malas, isso acontece conforme a demanda aparece - inclusive aos finais de semana. "Já entreguei mala com as crianças dentro do carro", lembra.

Apesar da correria e de se desdobrar para cumprir inúmeras funções, Mariana garante que está feliz e realizada. Economicamente, a situação é melhor do que antes da pandemia, pois o Ateliê das Curvas traz mais renda e exige menos tempo de dedicação ao trabalho que a Turma do Lanchinho.

“A loja me traz uma situação financeira muito melhor. Foi um divisor de águas na minha vida, me deu alegria e independência financeira. Minha renda eu gasto comigo e com as crianças, pago natação”, exemplifica.

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Do turismo de Lisboa para o crochê em Bertioga

A disseminação da covid-19 também fez Camila da Silva, de 32 anos, perder o emprego em uma agência de turismo de Lisboa, em Portugal, e interromper o sonho iniciado em 2016, de viajar com o marido pelo mundo.

“Em Lisboa achamos oportunidades boas. O plano era ficar, mas mudou tudo. Eu estava trabalhando como guia de turismo em uma empresa russa, mas com a pandemia não conseguiram manter meu emprego”, relata.

Sem trabalho, ela foi obrigada a voltar para Bertioga, no litoral norte de São Paulo, e encontrou em uma habilidade herdada de família a chance para recomeçar.

“Eu aprendi a fazer crochê bem criança. A minha avó por parte de mãe faz crochê e, por parte de pai, minha avó era costureira e meu avô, alfaiate. Eu cresci no meio de agulhas e sempre gostei disso”, conta.

O retorno para o mundo das costuras e tecidos aconteceu em setembro de 2020, quando fazer bolsas de crochê era uma forma de presentear a mãe, a irmã e a sobrinha.

Elas gostaram tanto do resultado que incentivaram Camila a transformar o lazer em coisa séria. “Me deram a ideia de fazer [as bolsas] para vender. Mas a lojinha online é super recente, não tem nem um mês”, afirma.

Uma das bolsas feitas por Camila e vendidas na Passiflora
Uma das bolsas feitas por Camila e vendidas na Passiflora Uma das bolsas feitas por Camila e vendidas na Passiflora

“Este começo de ano foi bem conturbado, a família do meu marido perdeu gente para a covid, aí só agora comecei a colocar a loja para andar. Antes, a divulgação era boca a boca”, acrescenta.

Ela montou a Passiflora, sua loja virtual, na plataforma de comércio eletrônico Shopee e neste mês fez a divulgação em um grupo do Facebook focado a promover o trabalho de mulheres - o mesmo usado por Mariana.

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“Eu tive bastante feedback. Muitas meninas vieram falar comigo no insta e no face. Geralmente, nesses grupos de mulheres o acolhimento é muito grande”, avalia.

Por ora, a venda das bolsas não garante a sobrevivência, mas rende uma grana extra. E Camila planeja, junto com seu companheiro, expandir o negócio. “Na verdade, eu estou em reforma na minha casa e temos planos de fazer algo maior, com outros tipos de produtos artesanais. Quero montar uma loja com foco em venda por telefone e online.”

Mãe x Mulher de negócios

Mariana tem que se desdobrar para cuidar dos filhos e de sua loja
Mariana tem que se desdobrar para cuidar dos filhos e de sua loja Mariana tem que se desdobrar para cuidar dos filhos e de sua loja

Mariana também compartilha desse desejo. Mas as tarefas da maternidade acabam adiando os planos da mulher de negócios. “O que me dá uma brecada é a questão de que eu sou mãe, tenho dois filhos e meu único tempo para trabalhar é quando eles estão na escola”, explica.

“Eu não conseguia trabalhar quando eles estavam em casa. O Gael tem muita dificuldade com aula online. Além disso, tenho dois cachorros, um gato e um marido. Sou eu sozinha [para cuidar da loja], apesar de ele me dar muito apoio”, destaca.

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